Perdendo a motivação
O cemitério segue vazio. Estão presentes apenas a viúva e uma neta.
Cumprimento ambas com um: meus sentimentos.
Me sento.
A neta está de jeans e de blusa preta. É gordinha mas dá um carreteiro. Têm os olhos azuis e o cabelo tingindo de loiro mel. Lembro-me dela com oito ou nove anos brincando de esconde-esconde na praia. Passamos um verão na mesma casa. Agora está com mais de vinte e cindo anos.
É, realmente, o tempo é amigo de algumas pessoas.
Fico na minha, sem exalar nenhum movimento. Deixo as duas compartilharem seu momento de desalento ao lado do defunto que se encontra dentro de um caixão de pinho.
Mais familiares chegam. Uns me acenam, outros não. Agora são sete da noite. O velório vai até às dez da manhã do próximo dia. Me encho de tédio e vou para a rua fumar. A gordinha suculenta surge ao meu lado. Fala que seu avô era um figurão e que deixará saudade. Ofereço um cigarro. Ela recusa. Pergunta se eu gosto de rock and roll. Respondo que sim. Diz que a minha aparência (barba e cabelos compridos) faz jus ao meu gosto musical. Dou uma piscadela marota. Conversamos mais um pouco. Ela pega o seu celular no bolso do jeans e me adiciona no Facebook. Comenta que tem a intenção de marcar uma noitada rocker/pesada/alcoólica comigo. Nos despedimos. A gordinha regressa para dentro da capela e eu perco a motivação de continuar ali.
Faço sinal para um táxi e volto para a casa. Dentro de instantes começará um jogo do “charmoso” campeonato gaúcho do qual pretendo assistir.
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