O caso da polenta
Passava o fim de semana no balneário.
Aos domingos, gostava de subir a rua: lá em cima, havia um casal que vendia galinha assada com polenta. Era uma boa pedida quando vinha gente da cidade.
Naquele domingo, depois de dar a sua caminhada habitual à beira da lagoa, resolveu buscar o almoço: o neto adorava comer uma coxa de galinha com polenta, uma polenta bem crocante, repartida em pequenas barras.
Pegou o farnel, bem quentinho, e saiu caminhando rápido, pois, àquela hora, cerca de onze horas, o sol castigava. Dois cachorros começaram a segui-la. Apurou o passo, para ver-se livre deles.
Um dos cães terminou desistindo. O outro, seduzido pelo cheiro do frango assado, deu um salto para arrebatá-lo. Ela conseguiu levantar a sacola a tempo; preparou-se para continuar. Inútil: o cachorro, ainda que pequeno, enredava-lhe as pernas, impedindo-a de seguir. Olhou à volta: não havia ninguém que a socorresse. A rua totalmente deserta, já era fora de temporada.
Diante do impasse, veio-lhe uma ideia. Absurda, talvez, mas factível. Pegou uma das barrinhas de polenta e jogou longe. O cachorro correu e engoliu-a com avidez. E, em poucos segundos, estava novamente na sua frente, pedindo mais.
Parada diante do cachorro, ela hesitou. Se bobeasse, chegaria em casa sem polenta. Deu uns passos, mas ele quase a engolia com seu grande olhar fixo. Fez sinal de que ia jogar mais uma polenta, deu mais uns passos, o animal ali, obstruindo a sua marcha. Pegou uma polenta, espichou o braço e atirou-a o mais longe possível.
Enquanto ele ia procurá-la, adiantou-se. Em passos velozes, logo estaria em casa. Mas, eis que o seu amigo voltava a fazer-se presente, aceso para o pacote que ela segurava com força. Tentou tergiversar, mas viu que não havia outro jeito senão jogar-lhe mais um pedaço. E assim fez, mais duas, três vezes. Até que, finalmente, chegou ao portão de sua casa: no pacote, havia metade da polenta que havia comprado.
O cachorro ainda continuou por aquelas bandas, na expectativa, por um bom tempo.