** PARA MELHOR COMPREENSÃO E APROVEITAMENTO DO TEXTO,
ESQUEÇA A PRESSA, RESPEITE AS PAUSAS DE RESPIRAÇÃO E
BOA VIAGEM!**
ESQUEÇA A PRESSA, RESPEITE AS PAUSAS DE RESPIRAÇÃO E
BOA VIAGEM!**
ZEN
No horário do almoço, incomodada com uma enxaqueca resultante do estresse sofrido no trabalho, Celeste resolveu fugir de todo aquele alvoroço no coração de São Paulo. O dia estava quente, as pendências se acumulavam sobre sua mesa, mas ela decidira que faria algo diferente e aproveitaria cada minuto do seu descanso.
Caminhou algumas quadras até chegar ao Parque Ibirapuera, procurou um local agradável e fresco perto do lago, sentou-se confortavelmente na grama, recostada a uma árvore frondosa, fechou os olhos e respirou fundo. Concentrou-se em sua respiração, aos poucos foi retirando da mente todos os pensamentos e isso fez com que cada partícula de seu corpo fosse relaxando lentamente...
Inspirando...expirando...inspirando...expirando...
Ali tudo era paz. Ela sentia a brisa tocando delicadamente sua pele, ouvia os pássaros cantando. A cada inspiração todos os aromas daquele local mágico se misturavam em suas narinas e traziam um pouco daquela bela paisagem para dentro de seu corpo.
Inspirando...expirando...inspirando...expirando...
Sentia sua aura expandir, emanando uma energia harmoniosa e pulsante. Seu corpo parecia desmaterializar, misturando-se à grama, à terra, às árvores e à água do lago.
Inspirando...expirando...inspirando...expirando...
O coração batia em um compasso lento, a alma desgarrou-se, planou no vento... Voou sobre a cidade cinza mas agora ela fazia parte do azul... Nada que se passava lá embaixo a incomodava, nenhum problema existia. O tempo parou. A única coisa importante naquele momento era planar no azul profundo e límpido no qual morava seu sonho de paz.
Inspirando...expirando...inspirando...expirando...
Sentiu a leveza, a liberdade plena. A abóbada celestial, refúgio para seus olhos em ocasiões especiais ou difíceis era agora o espaço que lhe cabia. O céu, o limite do sem-fim, lugar exato para medir a extensão de sua alma. Deu a volta ao mundo, estendeu seus braços de luz e abraçou o planeta, a Terra, o grande útero, com suas incontáveis espécies, todo seu mistério de criação e multiplicação da vida. Fundiu-se com as nuvens e choveu...
Inspirando...expirando...inspirando...expirando...
Despencou do céu, virou semente... Germinou, cresceu e experimentou a delicadeza de ser uma flor gingando com a brisa e espalhando seu perfume. Sentiu-se prestigiada com a visita dos colibris e das abelhas na busca do seu néctar. Nas patas das borboletas voou e espalhou seu pólen, multiplicou-se...
Inspirando...expirando...inspirando...expirando...
Agora estava completamente dispersa, era o todo em seu corpo imaterial: o ar, a água, a terra, o fogo... Era um pouco de tudo, fazia parte da engrenagem que movia o universo. Era uma partícula de energia cósmica, poeira estelar... E então, tornou-se energia pura... crescente... crescente... crescente... crescente... Tomou proporções inimagináveis e começou a atrair tudo para si: os planetas, as estrelas, as galáxias, os cometas... Nem mesmo a luz lhe escapava... Acumulou uma energia extremamente potente e poderosa, explodiu e recriou o universo, que se acomodou inteiro dentro dela.
Inspirando...expirando...inspirando...expirando...
Voltou ao seu corpo original e viu-se vestida em trajes de luz, caminhando por uma alameda de terra fofa e úmida com centenas de árvores perfumadas e perfiladas, que pareciam dançar suavemente com vento. A estrada era longa e ela caminhava calmamente, sentindo o perfume da terra molhada e a sensação deliciosa da massagem que o chão morno e macio proporcionava aos seus pés cansados. Ao final da estrada havia um belo jardim e no seu centro uma igrejinha branca com o campanário alto onde sinos repicavam...
Ela foi voltando lentamente...
Inspirando...expirando...inspirando...expirando...
E o mundo real, começou a surgir com o som do despertador de seu celular que tocava - ou era o som dos sinos do campanário? Vagarosamente, abriu os olhos e contemplou o lago manso sendo enrugado pela brisa. À margem, uma libélula azul tentava se equilibrar no capim que balançava. Então entendeu que aquela cena era também parte da engrenagem silenciosa que movia o universo.
Sentiu-se parte daquele momento sublime, para o qual o tempo não fazia nenhum sentido. Agora sabia que toda a matéria do universo se interligava com fios invisíveis de energia. Ela era mesmo uma pequena parte do cosmo e continha em si todo seu potencial energético, fisicamente aceso pela breve fagulha da vida. A contagem do tempo que os seres humanos tanto valorizavam apenas servia para camuflar essa verdade universal. “O tempo não existe, a morte não existe, o que há é apenas a transformação da matéria em energia cósmica. Ah, se todos soubessem disso, como o mundo seria diferente!” – pensou. O silêncio foi quebrado pelo canto do bem-te-vi e isso a fez lembrar que estava na hora de retornar ao trabalho. Mais uma vez, profundamente, inspirou e expirou.
Levantou-se e viu que já começava a se atrasar, mas com o espírito zen seguiu calmamente, aproveitando cada detalhe que poderia captar do parque naquele momento. Parecia caminhar sobre nuvens, sentia-se envolta em um manto de tranquilidade e felicidade imensas. Lembrou-se do motivo que a havia levado ali, aquela terrível enxaqueca, que agora havia desaparecido por completo. Ligou o celular que no mesmo instante começou a tocar e o atendeu calmamente, enquanto seguia devagar para o trabalho. Agora, porém, com as baterias de paz e confiança recarregadas, já planejando sua próxima visita ao parque.
Inspirando...expirando...inspirando...expirando...
Assim que saiu do parque encontrou um rapazinho, sujo, magro, com os olhos vidrados e vazios. Sentiu uma vontade enorme de conversar com ele e contar-lhe tudo que havia descoberto mas antes de pronunciar uma só palavra, ele lhe apontou um revólver e pediu dinheiro. Em seu íntimo ela sentia que não corria perigo, abriu a bolsa e procurou aquilo que o rapaz lhe pedira. Encontrou somente algumas moedas e lhe ofereceu sorrindo. Ele recusou as moedas e interpretou o sorriso como zombaria... Puxou o gatilho: uma, duas, três vezes...
Ela caiu e olhou para o céu.
Inspirando...expirando...inspirando...expirando...
Uma pequena multidão se aglomerou à sua volta, ela olhou para as expressões assustadas, revoltadas e comovidas, mas para o total espanto daquelas pessoas, sussurrou: “Fiquem tranquilos, não vou morrer...”. Voltou novamente os olhos para o azul e sorriu...
Inspirando...expirando...inspirando...
Virou luz... Eternidade...
(Andra Valladares)
http://www.poeticamentempv.blogspot.com.br/
No horário do almoço, incomodada com uma enxaqueca resultante do estresse sofrido no trabalho, Celeste resolveu fugir de todo aquele alvoroço no coração de São Paulo. O dia estava quente, as pendências se acumulavam sobre sua mesa, mas ela decidira que faria algo diferente e aproveitaria cada minuto do seu descanso.
Caminhou algumas quadras até chegar ao Parque Ibirapuera, procurou um local agradável e fresco perto do lago, sentou-se confortavelmente na grama, recostada a uma árvore frondosa, fechou os olhos e respirou fundo. Concentrou-se em sua respiração, aos poucos foi retirando da mente todos os pensamentos e isso fez com que cada partícula de seu corpo fosse relaxando lentamente...
Inspirando...expirando...inspirando...expirando...
Ali tudo era paz. Ela sentia a brisa tocando delicadamente sua pele, ouvia os pássaros cantando. A cada inspiração todos os aromas daquele local mágico se misturavam em suas narinas e traziam um pouco daquela bela paisagem para dentro de seu corpo.
Inspirando...expirando...inspirando...expirando...
Sentia sua aura expandir, emanando uma energia harmoniosa e pulsante. Seu corpo parecia desmaterializar, misturando-se à grama, à terra, às árvores e à água do lago.
Inspirando...expirando...inspirando...expirando...
O coração batia em um compasso lento, a alma desgarrou-se, planou no vento... Voou sobre a cidade cinza mas agora ela fazia parte do azul... Nada que se passava lá embaixo a incomodava, nenhum problema existia. O tempo parou. A única coisa importante naquele momento era planar no azul profundo e límpido no qual morava seu sonho de paz.
Inspirando...expirando...inspirando...expirando...
Sentiu a leveza, a liberdade plena. A abóbada celestial, refúgio para seus olhos em ocasiões especiais ou difíceis era agora o espaço que lhe cabia. O céu, o limite do sem-fim, lugar exato para medir a extensão de sua alma. Deu a volta ao mundo, estendeu seus braços de luz e abraçou o planeta, a Terra, o grande útero, com suas incontáveis espécies, todo seu mistério de criação e multiplicação da vida. Fundiu-se com as nuvens e choveu...
Inspirando...expirando...inspirando...expirando...
Despencou do céu, virou semente... Germinou, cresceu e experimentou a delicadeza de ser uma flor gingando com a brisa e espalhando seu perfume. Sentiu-se prestigiada com a visita dos colibris e das abelhas na busca do seu néctar. Nas patas das borboletas voou e espalhou seu pólen, multiplicou-se...
Inspirando...expirando...inspirando...expirando...
Agora estava completamente dispersa, era o todo em seu corpo imaterial: o ar, a água, a terra, o fogo... Era um pouco de tudo, fazia parte da engrenagem que movia o universo. Era uma partícula de energia cósmica, poeira estelar... E então, tornou-se energia pura... crescente... crescente... crescente... crescente... Tomou proporções inimagináveis e começou a atrair tudo para si: os planetas, as estrelas, as galáxias, os cometas... Nem mesmo a luz lhe escapava... Acumulou uma energia extremamente potente e poderosa, explodiu e recriou o universo, que se acomodou inteiro dentro dela.
Inspirando...expirando...inspirando...expirando...
Voltou ao seu corpo original e viu-se vestida em trajes de luz, caminhando por uma alameda de terra fofa e úmida com centenas de árvores perfumadas e perfiladas, que pareciam dançar suavemente com vento. A estrada era longa e ela caminhava calmamente, sentindo o perfume da terra molhada e a sensação deliciosa da massagem que o chão morno e macio proporcionava aos seus pés cansados. Ao final da estrada havia um belo jardim e no seu centro uma igrejinha branca com o campanário alto onde sinos repicavam...
Ela foi voltando lentamente...
Inspirando...expirando...inspirando...expirando...
E o mundo real, começou a surgir com o som do despertador de seu celular que tocava - ou era o som dos sinos do campanário? Vagarosamente, abriu os olhos e contemplou o lago manso sendo enrugado pela brisa. À margem, uma libélula azul tentava se equilibrar no capim que balançava. Então entendeu que aquela cena era também parte da engrenagem silenciosa que movia o universo.
Sentiu-se parte daquele momento sublime, para o qual o tempo não fazia nenhum sentido. Agora sabia que toda a matéria do universo se interligava com fios invisíveis de energia. Ela era mesmo uma pequena parte do cosmo e continha em si todo seu potencial energético, fisicamente aceso pela breve fagulha da vida. A contagem do tempo que os seres humanos tanto valorizavam apenas servia para camuflar essa verdade universal. “O tempo não existe, a morte não existe, o que há é apenas a transformação da matéria em energia cósmica. Ah, se todos soubessem disso, como o mundo seria diferente!” – pensou. O silêncio foi quebrado pelo canto do bem-te-vi e isso a fez lembrar que estava na hora de retornar ao trabalho. Mais uma vez, profundamente, inspirou e expirou.
Levantou-se e viu que já começava a se atrasar, mas com o espírito zen seguiu calmamente, aproveitando cada detalhe que poderia captar do parque naquele momento. Parecia caminhar sobre nuvens, sentia-se envolta em um manto de tranquilidade e felicidade imensas. Lembrou-se do motivo que a havia levado ali, aquela terrível enxaqueca, que agora havia desaparecido por completo. Ligou o celular que no mesmo instante começou a tocar e o atendeu calmamente, enquanto seguia devagar para o trabalho. Agora, porém, com as baterias de paz e confiança recarregadas, já planejando sua próxima visita ao parque.
Inspirando...expirando...inspirando...expirando...
Assim que saiu do parque encontrou um rapazinho, sujo, magro, com os olhos vidrados e vazios. Sentiu uma vontade enorme de conversar com ele e contar-lhe tudo que havia descoberto mas antes de pronunciar uma só palavra, ele lhe apontou um revólver e pediu dinheiro. Em seu íntimo ela sentia que não corria perigo, abriu a bolsa e procurou aquilo que o rapaz lhe pedira. Encontrou somente algumas moedas e lhe ofereceu sorrindo. Ele recusou as moedas e interpretou o sorriso como zombaria... Puxou o gatilho: uma, duas, três vezes...
Ela caiu e olhou para o céu.
Inspirando...expirando...inspirando...expirando...
Uma pequena multidão se aglomerou à sua volta, ela olhou para as expressões assustadas, revoltadas e comovidas, mas para o total espanto daquelas pessoas, sussurrou: “Fiquem tranquilos, não vou morrer...”. Voltou novamente os olhos para o azul e sorriu...
Inspirando...expirando...inspirando...
Virou luz... Eternidade...
(Andra Valladares)
http://www.poeticamentempv.blogspot.com.br/