Apreensão
A porta de cedro do apartamento segue fechada e eu apreensivo do lado de fora. Não quero compartilhar dessa sentença. Em relação a isso, sou covarde e fraco. Deixo tudo nas mãos dela, e o que decidir direi amém e apoiarei. Desço o lanço de escadas do prédio e aguardo na calçada. A rua está em obras: carros buzinam, pessoas gritam e outras xingam; tudo me causa inquietação. Estou sem cigarros. Há dois meses abandonei o vício. Escoro-me numa árvore e mastigo um chiclete de menta. Não consigo ficar parado, me movo novamente. Pego o celular do bolso e vejo as horas; é cedo da manhã. Uma fina e gélida névoa cobre o bairro. Dou dois espirros e seco as mãos na calça. Durante os quinze minutos que se passam, aguardo amofinado, andando de um lado para outro. Quando Bárbara surge através do marco da porta do edifício, seus olhos marejam. Com um abraço apertado e rijo, me diz emocionada: Não tive coragem, teremos o bebê.
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