ILUSÕES
Otavinho sente uma leve tontura e senta-se em um banco por ali. O mal-estar logo passa. Tivera uma sensação de outra época, em que presenciara nitidamente a morte do pai; sentia tristeza... ou será fruto daquele “cochilo”...? Será que sonhara? Olha em torno de si. Crianças gritavam enquanto brincavam em um carrossel logo adiante. Roda gigante, montanha russa, tiro ao alvo, algodão doce... Um parque de diversões! Otavinho tenta desanuviar a confusão em sua mente.
“Como foi mesmo que vim parar aqui!?” – pensa.
Olhando pra todos os lados, tentando reconhecer o local, vê seu pai, surgindo por trás da carrocinha de pipocas, desviando-se das pessoas que se agitavam por ali. Sorriem um pro outro. O pai lhe pergunta, assim que se aproxima:
- O que está fazendo aqui? Parece meio perdido.
- Não sei... Acho que cochilei. Tive uma sensação esquisita, como se alguém que eu amo muito tivesse morrido.
- Bobagem! Você passou o dia nesta agitação. Deve estar cansado. Quer comer alguma coisa?
- Acho que não.
- Então aproveite a noite. Divirta-se, afinal é seu aniversário de dezenove anos. Porque não tenta descobrir novos locais por aqui?
Otavinho olha pra direita e vê a entrada de uma enorme tenda, montada ao sopé de um morro. Na entrada estava escrito: “Illusions”.
- Devo estar mesmo confuso. Não me lembro de ter visto aquele lugar antes. Aquele lugar me atrai. Vou lá ver que tipo de diversão há por ali.
- Vá na frente que já lhe encontro – responde seu pai.
Otavinho levanta-se e dirige-se para a tenda. Tenta se lembrar de como chegara e quanto tempo estava ali. Enquanto se dirige àquela tenda, a sensação desagradável do início se dissipa. Sem hesitar ele entra na tenda. Uma recepcionista aproxima-se, e, sorrindo:
- Seu casaco, senhor – diz estendendo a mão pra pegar.
Ele passa a mão pelo peito, sobre o casaco. Fora um presente de seu pai. Ganhara naquela manhã.
- Prefiro ficar com ele. Sinto-me bem assim.
Ela não insiste.
Caminham juntos até o lado oposto da tenda, junto ao morro. Ela puxa uma corda colorida, abrindo uma cortina, mostrando a entrada de uma caverna.
“Será uma caverna de horrores? Ou algum truque com espelhos?”
Ele entra e senta-se em um carrinho sobre trilhos.
A viagem é curta. Algo entre trinta e quarenta segundos, com luzes piscando, um ou outro flash mais intenso, saindo da montanha logo em seguida, parando sobre uma calçada, do outro lado. Otavinho olha pra trás e já não vê mais a saída da caverna.
“Que brinquedo mais esquisito!”
Não vira nada, exceto aquelas luzes piscando, sem nexo, o que o fez sentir uma leve tontura.
Estava agora em outra parte do parque. O local era enorme, maior que a ala anterior, com pequenas tendas individuais. Naquele setor todos os brinquedos eram eletrônicos.
Otavinho caminha entre as outras pessoas que lhe desafiavam em duelos, nos jogos. Ele aceitava um convite aqui outro ali, testando sua inteligência. Não apostavam nada. Cada vitória era seguido de uma sensação agradável, difícil de explicar. Quando perdia, uma nuvem eletromagnética forrava o chão, transmitindo pequenas ondas de choque, atingindo apenas o perdedor. Não eram tão intensos mas eram desagradáveis; duravam dez segundos.
Passa um longo tempo jogando, indo de tenda em tenda. Lembra-se de como gostava de jogar com seu pai. Vez ou outra vinha-lhe a sensação de estar esquecendo algo importante, mas não conseguia atinar o quê. Ao sair desta última, uma jovem lhe pede o casaco emprestado. Ele passa a mão sobre o peito. Isso lhe lembrava algo. Ganhara aquele casado de alguém. “Quem fora mesmo que lhe dera?” – Leva alguns segundos pra se lembrar. Ganhara-o de seu pai naquela manhã. Presente de aniversário. Sentia-se confuso. Como pudera ganhar aquele casaco naquela manhã se ele morrera há tanto tempo? “Ou será que não?” – sua memória fica mais clara. Um mal estar começa a lhe invadir o peito. Lembra-se que seu pai tentara lhe proteger de algo – “O que era mesmo?” – esforça-se um pouco mais e lembra-se de seu pai se pondo na sua frente e recebendo o grande impacto, caindo morto ao seu lado. Estranhas criaturas os perseguiam... Não conseguia se lembrar de mais nada. Ele olha pra moça ao seu lado. Ela arqueia as sobrancelhas:
- Tá... Pode ficar com ele.
Alguém a chama do outro lado da sala. Ela sai. Otavinho sente pequenas ondas de choque vindo do solo e sobe em um banco de madeira. Tem a sensação de ter sentido aquilo antes. Em seguida vê seu pai vindo em sua direção, com um sorriso no rosto. Otavinho também sorri, esquecendo-se de todo resto. Eles conversam um pouco e o pai lhe indica uma tenda ao sopé de um morro no qual se lia sobre a entrada: “Illusions”.
Alguns segundos antes, em outro local, em uma saleta escondida por um espelho, uma mão deslizara sobre um painel com estranhos símbolos e, com seus dedos longos, tocara em um que havia ficado com luz mais intensa. Com seus olhos grandes e inexpressivos fixa o olhar sobre Otavinho.
“De novo!?”
Estudava aquele indivíduo há algum tempo. “Porque será que com aquele ser as intervenções eram mais freqüentes, enquanto que com outras eram um tanto raras?”
Mais ao alto, sobre uma enorme redoma espelhada, simulando a atmosfera, alguns seres observavam, atentos ao comportamento de todas aquelas pessoas. Algumas, acompanhadas de seus filhos, apontavam um ou outro espécime, divertindo-se.
E você? Está com alguma sensação estranha?