Nil em uma noite
Ontem sai com uma mulher casada. Estava confusa e muito retraída. Olhou-me de cima a baixo e entre os dentes disse que eu realmente era muito bonito como suas amigas haviam dito. Confesso que fico meio desconcertado com as mulheres casadas, pois sei que há alguém sendo traído naquele momento, mas o dinheiro fala mais alto que meus princípios e além do mais é o meu trabalho, não posso me dar ao luxo de escolher as clientes. (Bela justificativa, não?). Mas não quero falar sobre meus princípios agora.
Abri uma garrafa de vinho e ofereci uma taça àquela mulher. Sentamos de frente um para o outro e aos poucos ela foi se abrindo. Começou a falar sobre sua vida, seu casamento, seu marido. Chorou muito. Ofereci meu ombro e ela se encaixou em mim de tal forma que parecíamos um só. Sentia sua barriga pular durante os soluços. Eu acariciei seus cabelos e vez ou outra enxugava suas lágrimas. Fiquei comovido com a história dela. Um marido que só chegava bêbado em casa, que só queria saber de futebol e barzinhos... Que não reparava nada de diferente na mulher, nem o corte de cabelo nem as unhas nem a maquiagem. Ela se sentia insignificante para ele. E naquela noite eu a fiz se sentir a melhor mulher do mundo. Dei o que mais queria: carinho, atenção, ouvidos para escutar seu lamento, suas derrotas, seus sonhos. Não fizemos sexo.
Acabei virando uma espécie de terapeuta sexual, por isso não gosto de ser chamado garoto de programa, pois procuro satisfazer as mulheres em todos os sentidos. Permito que se abram para mim de corpo e alma. Faço com que se sintam bonitas, charmosas, elegantes, amadas e importantes. Eu as valorizo como pessoas e exalto as suas qualidades. Muitas já chegaram desiludidas até mim e depois sairam cheias de vida e esperança. Teve uma mulher de uns trinta anos que era muito tímida e não conseguia namorar, achava-se feia (realmente era) e se isolava, não investia em homem nenhum temendo a rejeição. A voz desta mulher era de anjo. Daquelas que você ouve ao telefone e imagina a mulher mais linda do mundo. Não tem isso? Vai me dizer que nunca imaginou a feição de alguém pela voz? Pois é. Exaltei essa qualidade dela. Disse que com aquela voz ela teria o homem que quisesse a seus pés. Um mês depois começou a namorar.
Mas voltando ao assunto da mulher que eu sai ontem digo que ela voltou para casa convicta de que é especial e tem muito a oferecer ao seu marido. Disse que iria se valorizar mais e que não iria ficar pelos cantos a lamentar. Mostrei-lhe que precisava ser notada por ela mesma para fazer com seu marido a percebesse. Há homem muito tolo que não percebe a mulher que tem, só depois que perde.
Por hoje é só.
Um beijo do Nil.