A Ruiva - I, 01
É engraçado como as coisas acontecem, como elas mudam...
Eu me sinto diferente de, sei lá, seis meses atrás quando comecei a trilhar um caminho diferente com uma pessoa diferente. A conheci bem antes desses seis meses e como tudo aconteceu.. É eu sei, isso é bem comum, a vida muda não é mesmo? Não há nada de anormal nisso. Só que no meu caso, meio que pude prever, escolher. E quando tive "a oportunidade" não me permiti errar. Acabei por conhecer a melhor pessoa do mundo. A Ruiva.
Sai da casa dos meus pais aos 16 anos para morar sozinho à 400 quilômetros da minha antiga cidade, não ia ser nada fácil, mas eu era confiante e tinha boas espectativas de como seria tudo isso.
Era uma manhã não muito quente - o que é meio raro de acontecer no sertão - com um céu bem azulado, sai de casa bem cedo para não me atrasar no primeiro dia na nova escola. É engraçado lembrar de como pensava na época sobre o que estava vivendo, realmente me importava muito de como as coisas iriam acontecer, tentava ser perfeito, fazer daquela nova vida uma vida perfeita. Eu estava ansioso. Foi um dos meus primeiros dias na capital e tudo era muito novo, muito intenso. Eu me preocupava bastante com a imagem que iria passar aos novos colegas de classe e meio que tentei não aparecer muito, deixar as coisas se desenrolarem sozinhas, naturalmente. Quando entrei pela porta de vidro, cheia de adesivos com mensagens motivacionais e outros que desejavam boas vindas, todas aquelas pessoas nos recebendo com sorrisos estampados no rosto, felizes. Era uma nova vida, até o prédio em que a escola funcionava acabara de ser construído. Dava para sentir isso no ar, a atmosfera era muito agradável.
Subi as escadas e procurei a minha turma, okay, esse momento não foi muito legal. Por distração não encontrei o meu nome na lista da primeira sala que olhei, a lista ficava presa na porta de cada classe e havia muitas pessoas procurando simultâneamente por seu nome. Sem problemas, vamos a próxima! Acontece que o meu nome estava lá, na primeira porta, e demorei 20 mim, 8 portas depois e um pouco de desespero para descobrir isso. Ah! Eu sou um pouco dramático, eu sei. Entrei na sala e tentei não parecer assustado por ter 53 desconhecidos olhando eu entrar atrasado na classe e escolher uma cadeira. Sentei bem no centro da sala, não queria sentar no famoso fundão para não passar uma imagem de "descolado" ou coisa do tipo, mas também não queria ser o nerd da sala ao sentar bem na frente. Achei o equilíbrio entre esses dois rótulos, o que me define bem pra ser sincero. A sala era rentângular mas com o quadro em uma das paredes de maior lado, por esse motivo não havia bem um fundão, as laterais é que eram um pouco distantes. Diferente da minha antiga escola, a sala era bem confortável e bonita, tudo bem simétrico. Como falei antes, havia sentado bem no centro da sala, era um bom lugar com uma boa vista para o quadro e onde a maioria das pessas estavam.
Logo conheci algumas meninas - tenho muita facilidade pra falar com o outro gênero - fiz algumas piadas para parecer engraçado, foi um bom começo. Lembro-me de tentar imaginar como seria cada pessoa daquela classe e depois descobrir se havia acertado. Posso dizer que acertei algumas, como a gordinha que sentava ao meu lado, era muito simpática e dinâmica. Nossa! Acho que ela conheceu todos na sala já no segundo dia. Adorava falar de música, principalmente dos Beatles, de como era a melhor banda do mundo e de como todos deveriam ouvir.
Teve uma outra garota que, admito, mexeu comigo. Ana o nome dela, era tão meiga, tão verdadeira que não podia imaginar que pudesse existir alguém assim. Uma pessoa tão doce que não faria mal à uma formiga, e ao mesmo tempo tão forte e decidida, segura de si. Me interessei logo de cara, não podia deixar uma pessoa assim passar, e de tanta conversa fora nos tornamos colegas, me mudei para mais perto dela na classe e dedicamos todas as manhãs que vieram naquele ano a construir uma amizade.
Teve um cara que também acertei. Esse sentava no fundão, era forte, gostava de academia e de brincar, ou melhor, e de "tirar onda" com seus amigos. Volta e meia alguma aula era interrompida por gargalhadas suas, ele chamava atenção sem se quer buscar maneiras para isso acontecer. Era natural, fazia isso por gostar dos amigos, por gostar de brincar com os amigos.
Após duas aulas muito divertidas, afinal era o primeiro dia - e todos sabemos que no primeiro dia de uma escola não há aula - chegou o primeiro intervalo. Não saí da sala, fiquei por lá ouvindo música com meu celular e meu fone. O grunge do Nirvana e Alice in Chains me agradava, era o tipo de som perfeito na minha opinião, variando entre o calmo e o agitado. Nunca poderia imaginar que uma das melhores coisas que iria me acontecer estaria na sala ao lado, tendo um novo inicio, muito parecido com o meu.
(Continua...)