a viagem =

Se jogou dentro da piscina enquanto o marido tentava arrumar alguma coisa par fazer. Desencontrado, mirou uma mesa nos fundos do hotel, sem ninguém. Ali poria em prática sua arte da palavra cruzada. Fazia cinco dias que não tinha outra coisa a fazer, esperar, esperar.

O hotel estava tomado de estrangeiros. O que mais se ouvia era o francês. Língua musical, dizia ela quando voltava para o quarto no final do dia. lembra quando fomos lá. nunca esqueço, aquilo que é País valorizado.

havia também espanhóis e ingleses. Os alemães com chapéus estranhos se amontoavam á beira da piscina, vermelhos como pimentões. e os ingles, bom, os ingles faziam o tipo inglês. sem o sal e o açúcar pertinente das coisas interessantes.

A criançada chata gritando numa barulheira infernal. Ela acompanhando com gestos e risos forçados aquela energia de muitos tons que se formava no Copacabana Palace.

E claro que ela não se jogou ali atoa. Interesseira como sempre foi, sabia que Mário já não estava com essa corda toda. Pobre, Mário, Aliás, não estava com corda nenhuma. Arrancou tudo, até as cuecas como dizia antigamente. Coitado, cego de amor. Homem velho encontrar uma coisa daquelas, pois era isso que clara era: uma coisa daquelas. Bonita, corpo vivo, olhos de piranha respeitada.

Vinte anos de diferença faz mais diferença quando o dinheiro se acaba. Se Mário não tinha claro o discurso, os sentimentos de perda já lhe rondava o semblante. Uma coisa eu sei que é certa. Ela vê o marido como um fenômeno muito simples: um cara envelhecido e sem mais nada a oferecer. Um bagaço que já teve seu uso. Queria eu pensar que ela fosse alguém ingênua, mas a mulherzinha sabia muito bem o que estava fazendo.

Essa é a ultima viagem! Disse ele, antes de partir para o Rio de janeiro. Meu doce , sabe que te daria o céu, mas nossas aventuras nos últimos anos, me deixou liso. Então você já sabe, depois dessa viagem vamos ter que controlar muito nossos gastos. Sabia que você é minha plumagem azul, não sabe ? Credo! Pensou ela fazendo cara de azeite. Minha raiva as vezes é mais dele do que dela. Homem quando dar par ser besta!

Há dez anos, ela não sabia o que era isso, economizar. Viajou o mundo todo, conheceu do bom e do melhor. Conta histórias que pareciam de mentira na pobre Santa Rita do Pau preto. Por isso ninguém ali gostava dela. Uma mulherzinha intragável, comentava -se à boca pequena. Mas dos truques que aconteciam naquele quarto da casa mais bonita da praça central, apenas Mário sabia. E nisso, clara tinha competência, sabia como deixar um homem aos seus pés. Onde aprendeu isso? não se sabe, tem algumas fêmeas que parece vir com o diabo embutido no sexo.

-- Continua

Andrade de Campos
Enviado por Andrade de Campos em 07/03/2014
Código do texto: T4719197
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