MUTISMO

De repente, um fato fez-me optar pelo silêncio. Não quero ouvir minha voz e não quero que a ouçam. Não tenho vontade de falar, já que não consigo colocar em palavras o que me vai na alma. Dormir pode ser a única solução para os que possuem pessoas ao redor.

Busco o silêncio em uma leitura agradável; em um filme legendado e sem som, onde desconheço completamente a trilha sonora; diante da tela do computador, jogando; no celular, também jogando; olhando para a televisão enquanto minha mente se concentra na agonia da dor no estômago, devido ao excesso de tensão.

Não, se não posso colocar em palavras o que sinto, de que me adianta falar o que quer que seja? O mutismo é a única saída para o que não tem como ser descrito. Como descrever a dor interior se não consigo transmitir com clareza? Nem mesmo sei se sentimentos podem ser verbalizados. Talvez somente em forma de poesia ou de um texto reflexivo. Mas nem aqui conseguirei colocar o cerne da minha ferida não exposta, mas interiorizada ao máximo, ocultada por dores e sonos .... e pelo mutismo constante dos que não querem mais falar.

Silêncio! Queixas acerca dele. Palavras soltas no ar que ficam sem respostas. Irritações dos que me cercam e querem ouvir o que tenho a dizer sobre determinado assunto. Mas não falo. Me calo, me fecho. Os assuntos não me interessam. Não vou me pronunciar.

A ferida está viva, sangra ainda, mas não há como explicá-la, justificá-la. Eu não consigo sequer explicar para mim mesma o motivo de um fato, talvez comum, ter criado tanto estrago em meu peito, em meu coração e em minha mente, até atingir o meu físico.

Sono, silêncio e dores abdominais. Sinais que denunciam um alto nível de estresse, de emocional dilacerado.

Escrevo, mas não falo. E na escrita também não consigo narrar o fato. Nem quero fazer isso, pois somente de pensar nele, sinto uma confusão mental decorrente de não ter ainda assimilado o que houve. Precisaria reorganizar minhas ideias para poder tentar transmiti-las. Mas sentimentos não são traduzíveis em palavras. Talvez possam ser descritos através de símbolos, como um coração sangrando, uma mente confusa, um corpo sem energia, um defunto, uma pessoa se contorcendo de dor, um ser deitado em sua cama a vagar pelo mundo dos sonhos.

O mutismo, o silêncio profundo e que enlouquece os que estão ao lado. Um som musical, talvez, como companhia.

NÃO! Definitivamente não quero ouvir a minha voz.

Campos dos Goytacazes, 05 de março de 2014 – 02:06 horas

Emar
Enviado por Emar em 05/03/2014
Reeditado em 05/03/2014
Código do texto: T4715595
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