Descobertas

Quinze anos, início da vida e dos questionamentos. Também nessa idade há angústias, talvez proporcionalmente maiores que na idade adulta, tendo em vista o pouco tempo vivido. Ela saiu de ônibus cidade adentro, buscando um local novo, diferente, inusitado para seus padrões suburbanos. O Centro Cultural.

Havia uma exposição, poesias escritas em letras grandes, em também grandes painéis dependurados no teto. Olhou, leu alguns, cansou-se; não lhe diziam muito, eram como palavras jogadas sem ligação aparente. Sentou-se no chão mesmo, disposta a transgredir – com tantos bancos vagos, parecia-lhe uma imensa trangressão.

Sentiu tocarem-lhe de leve os cabelos. Coração aos pulos, olhou para trás. Um jovem, tão jovem quanto ela, igualmente sentado no chão logo atrás, olhava fixamente para seus cabelos, como um cego.

- Trigo ao sol...

Ela não entendeu, quis sorrir mas estava constrangida até a morte e ele não a via; de repente, ainda acariciando seus cabelos, olhou-a fixamente nos olhos.

- Profundas florestas...

O constrangimento aumentou, ele tinha uma expressão enigmática. Ela não fazia a menor idéia de como agir. Tentou retribuir o olhar, mas logo desistiu.

- Posso tocar seus seios?

Em outra ocasião, sairia correndo dali naquele instante, mas um torpor a acometeu. Era o dia da transgressão, ela deveria provar, ir contra a maré. Aquiesceu.

Ele colocou de leve, muito de leve, a mão em concha sobre seu seio esquerdo. Não desgrudava o olhar do dela.

De repente o constrangimento mortal voltou. Sentindo as faces queimarem, ela se levantou, disse “vou embora”. Ele continuou olhando, mas agora olhava através dela. Ela saiu devagar, coração ainda aos pulos, sem se voltar para trás.

Já estava longe quando ouviu a voz doce do rapaz gritar muito alto, ecoando no imenso pé direito da sala de exposições:

- Adeus, anjo... até nunca mais!

Virou-se, ele acenava. Ela acenou também.

Saiu flutuando, sentindo-se renovada, uma sensação de novidade como se o mundo à sua volta houvesse mudado e nada fosse real. Como se existisse uma alma por trás de cada coisa material que ela enxergava.

Havia descoberto a poesia.