A minha vizinha coruja
Ela acorda lá pelo final da tarde. É quase uma rotina que se repete todos os dias. Toma um cafezinho, acende o cigarro e da varanda olha o horizonte. Terras paraguaias, ao oeste, onde se avista o por –do- sol.
Logo cai a noite. É na escuridão que surge essa figura soberana que fica acordada enquanto todos deste pequeno vilarejo dormem.
Como uma coruja é misteriosa. Há tempo que mora aqui, apesar de simpática, ainda causa estranhezas. Uns diz que ela é muito inteligente apesar de sua bipolaridade lhe provocar delírios...
Então, o que faz minha vizinha coruja?
Solitária em seu quarto, ventilador ligado, luzes apagadas, e diante de seu computador ela consegue transcender o limite das paredes ao infinito do mundo.
Ela adora umas músicas um tanto esquisitas. Quando ainda num tira umas notas de seu violino. Haja ouvidos. Aqui a turma curte bastante sertanejo. A gente gosta do rebolado. Já minha vizinha começa num repertório até conhecido MPB, alguns sertanejos, e muita música de viola. Até ai beleza. Mas, ela adora tal música clássica. Disseram-me que é tal de Beethoven, Mozart, Vivaldi e seu predileto Bach. Eu realmente não sei o que há de engraçado nestas músicas, são uns toques puros sem letras sem poesias. Num entendo.
Ah, mas poesias são com ela mesma. É na poesia que ela encontra as palavras para preencher seus sentimentos e adquirir sabedoria. Quando ainda, se arrisca em escrever seus pensamentos ocultos.
Assim. Mais uma madrugada se vai... O último gole de café, o último cigarro, a última música, última poesia e o sono vêm.