O Adeus de Lana
Passavam das 11 da manhã quando ela acordou.
Empapada de suor pelo mormaço anormal daquele domingo.
Os jornais haviam anunciado uma onda de calor para a próxima semana.
Ela abriu os olhos e tocou as paredes quentes, quase como asfalto, do pequeno quarto e lançou um palavrão.
Sentou-se na cama, soltou o sutiã que lhe incomodava e marcara as costas.
Dormira sem nem mesmo tirar a roupa que estava no dia anterior, tal o estado de embriaguez que chegou.
Não era dada a beber e perder a consciência das coisas, mas aqueles dias tinham sido particularmente extenuantes.
Procurou suas coisas... Angustiada, temendo ter perdido algo importante.
Mas não... As chaves, o celular e a pequena carteira estavam em cima da escrivaninha, do lado de uma garrafa de vinho pela metade.
Procurou seu cigarro...
Restava apenas um.
Levantou-se a contragosto, apanhou um isqueiro e o acendeu olhando pela janela.
Não havia ninguém na rua.
Ninguém além de um cachorro vira latas cochilando embaixo de uma árvore.
Fumou o cigarro até o fim, bebeu um gole do vinho quente e entrou no banheiro.
Botou seu celular para tocar no aleatório.
Soltou um sorriso quando ouviu o primeiro verso de uma musica de Janis Joplin.
Abriu o chuveiro e entrou com roupa e tudo.
Sentou-se e deixou a água lhe lavar a ressaca.
Ficou ali talvez por trinta minutos.
Se levantou quando seu estômago começou a roncar.
Largou as roupas num balde e andou nua pelo quarto.
Enxugou-se e se sentou na cama novamente.
Riscou despretensiosamente em seu caderno alguns pensamentos...
Ao fim de algum tempo, voltou a se levantar e recolheu um bolo de dinheiro que mantinha enrolado dentro de uma caixa de perfumes.
Contou as notas e lançou dentro de sua carteira.
Então, vestiu-se, encheu uma mochila com roupas e uma pequena mala com alguns livros.
Saiu e deixou a chave na porta com um bilhete grudado na parte de dentro.
“Baby, estou cansada.
Não só de você. Mas desta vida.
Baby, eu não quero fazer um drama, nem vou jogar fora seus discos ou queimar suas cartas.
Eu queria ter dito essas palavras antes, antes de você encher a cara e me deixar só.
Baby, eu queria que você fosse menos indeciso. Queria que você fosse homem.
Como tantos que eu vejo por aí e que não tive ainda oportunidade de conhecer.
Pois bem, agora eu vou... Vou procurar conhecê-los...
Talvez ache alguém, em particular.
para preencher o espaço que pensei que era seu.
Adeus, querido.
Lana”