Amanheceu...

O sol não havia nascido quando Gabriel atravessou o jardim. Como de costume olhou tudo ao seu redor e se deteve nas hortênsias orvalhadas.

Atravessou um arco florido, onde as primaveras coloridas resvalavam no portão principal de saída.

Parou por alguns minutos e olhou como se já sentisse saudade da sua chácara. Tomou uma estrada de terra e seguiu para sua fazenda. Após alguns quilômetros, virou à esquerda e enveredou para uma aléia de árvores frondosas.

Antes de chegar à casa da fazenda, o coração já completava o ciclo da cardiopatia.

A caminhonete encostou-se no barranco, seu corpo inclinou-se no banco e ele deu o último suspiro. Cumpria-se assim, a profecia, pois ele tinha a doença de Chagas. Desde muito jovem sempre quis viver embrenhado na natureza.

A última vez que foi ao cardiologista, sentiu que nada mais tinha a fazer. Calado esperou pacientemente à morte, que já o espreitava.

Anos atrás, os amigos o colocaram na política e se tornou prefeito da cidade. Só que pra ele o cargo era como uma trela no pescoço, uma escravidão. Muito desgostoso queria se livrar daquela vida, quando começou a conhecer o mundo contrário ao seu. Certo dia chamou um advogado, fez todos os documentos necessários e assinou sua demissão. Voou como um pássaro livre, voltando para sua vida bucólica. Amanhã oito dias já são passados da partida de Gabriel...

Há muitas moradas na casa do nosso Pai, Gabriel deve estar numa morada circundada de flores e pássaros.

Até qualquer dia!

Magda Crovador

magda crovador
Enviado por magda crovador em 20/02/2014
Reeditado em 21/02/2014
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