UM QUÊ DE SUSPENSE

UM QUÊ DE SUSPENSE

O funeral foi quase um acontecimento público. Meu pai, como político, foi bastante conhecido e recentemente ficou sendo notícia ao se casar com uma moça, jovem o suficiente para ser sua filha, e ainda por cima corista; e agora morria de repente, algumas semanas após o casamento.

Sempre que sentir o cheiro de lírios, vou me lembrar daquele dia. A casa tinha a atmosfera de augúrio e por ela toda se espalhou o odor que saia do caixão de carvalho, misturado com o perfume das flores. Todos os aposentos estavam escuros, em face das persianas estarem abaixadas; e as pessoas caminhavam; ao falarem do meu pai, pronunciavam seu nome como se tivesse sido um santo.

Recordo bem do cortejo lento e solene, do qual fazia parte, e da curiosidade nos rostos das pessoas que nos espiavam, olhando principalmente para Perpéstuma, dava para ouvir alguns comentários:

- Tão jovem e já viúva... um belo petisco...

Aleixenko
Enviado por Aleixenko em 19/02/2014
Código do texto: T4697301
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.