Um Gênio chamado Chico

Ele sorria, vivia, vivendo ia de flor em flor gostando das coisas que ninguém mais sentia, sentindo os desejos que ninguém mais queria, Chico nunca entendeu como nunca bateu em ninguém que o chamava de Chico, sempre gostou de ser chamado de Fran, mas é bem assim mesmo Chico, quanto mais você odeio um apelido mais ele combina com você, não seja uma criança tola, viva sua vida de Chico eu falei pra ele. Chico deseja matar quem chamava ele assim, não mata nada é fraco e volátil demais pra isso, pelo menos eu nunca duvidei disso, ou será que mata? Chico me confessou que uma vez assassinou um gato, eu belisquei ele por isso e não falei 2 dias seguidos com esse diabo, mas não vale a pena ficar sem falar com o Chico, não sei exatamente o por que mas valer não vale. O que importa aqui é falar do Fran/Chico ou Francisco, é isso! Vou falar mais dessa carniça de pele tenra, olhos negros como piche e com cabelos que parecem ter saído da bunda de um urso de tão ásperos e ruins que são. Chico encontrou seu amor no circo, seus olhos sempre foram tristes, ele usava óculos enormes no fim da década de 70 eu lembro bem, escrevia sem parar na sua maquina fazendo aqueles textos borrados, eu tive a oportunidade de escrever lá também. Não sei como foi mas sei que Chico encontrou Tereza lá no circo, Tereza era linda de morrer, Tereza amou Chico para sempre depois daquele dia, conheceu apenas ele e pertenceu a mais ninguém, nisso invejo Chico, invejo também Tereza, o amor deles era sem culpa. Ah quem me dera Chico, quem te dera Tereza foi o Circo. Chico em sua voz rouca na velhice equilibrava a musica em notas tristes de canções velhas, Chico era letrado e esperto, sonhava com Jesus e queria ser arrebatado, contava as historias sobre coisas invisíveis, puxava os pelos dos braços das crianças nas festas de aniversario para vê-las chorar, mas eles só riam e sorrindo iam para encontrar Chico. Acompanhei Chico em todas as suas andanças e fases, fases infantis, adultas e sua morte. Lembro que cheguei na sala num dia frio e vi Chico lá estirado tentando respirar mas seus olhos já estavam opacos demais para haver vida ali, imaginei Chico me olhando e olhando para seu próprio corpo enquanto Tereza enchia um copo com lagrimas, Chico saltou e dançou sozinho naquela sala com os pés descalços. Pulei o corpo de Chico no chão e fui para o quarto que agora seria só de Tereza, peguei os chinelos de Chico e os levei ao lado de seu corpo. Anos mais tarde sonhei com ele e depois desse sonho anos depois sonhei mais uma vez, Chico vive bem longe agora.