O garoto do viaduto
Lindo amanhecer de sol, o movimento estava intenso na rodovia Chagas e o trafego quase parado pelo alto número de veículos transitando em uma pequena cidade.
Em um viaduto a uns sete quilômetros do centro da cidade vivia um garoto de catorze anos chamado Ullices. O garoto vive neste mesmo local desde os seus onze anos quando um motorista alcoolizado cortou a frente de um carro e provocou um terrível acidente que tirou a vida dos seus pais. E era ali naquele viaduto completamente pichado e pouco seguro que Ullices passava seus dias em plena monotonia.
Só que neste dia com o lindo amanhecer de sol algo foi diferente. Passou um táxi com uma linda moça sentada no banco de trás, ela fitou Ullices durante todo o tempo que o táxi ficou parado na sinaleira, e em questão de segundos um mar de pensamentos invadiu a moça que vendo o garoto ali sozinho deitado em um colchão velho, sentiu que precisava ajudá-lo; com o semáforo ainda no vermelho a bela moça desceu do veiculo e foi cautelosamente para perto de Ullices.
Ela o tocou e, falou:
—Menino, olhe para mim.
O garoto assustado olhou para a moça e então uma conversa entre dois desconhecidos se iniciou.
—Qual o seu nome? Perguntou ela.
—Ullices e o seu?
—Me chamo Zenety e quero ajudá-lo! Respondeu a moça.
O garoto ficou surpreso com a intenção da mulher e, ela vendo a reação dele, logo perguntou:
—Por que o espanto Ullices ?
Ele respondeu:
—Sou um menino que a vida fez solitário, não tenho parentes e vivo neste local a anos, vi milhares de pessoas passarem desviando o olhar de mim, homens elegantes e bem vestidos, moças arrumando seus cabelos ou passando batom vermelho cor de sangue. O mesmo vermelho de sangue que vi sobre o corpo de meus pais; mas neste tempo todo ninguém me deu um sorriso ou uma palavra, a senhora foi a primeira e eu achava que para mim já estava tudo perdido.
A moça secou as lagrimas que escorreram e, disse:
—Preciso ir mas, prometo que voltarei amanhã!
Ela foi embora com o pensamento somente no garoto que mesmo vivendo na rua era muito educado.
O restante do dia foi indiferente dos outros mas, quando a noite chegou Ullices foi dormir com sonhos e com esperança; colocou suas mãos sobre seu peito e sentindo seu coração pulsar ele agradeceu a Deus pelo lindo amanhecer de sol e por Zenety ter aparecido. Nela Ullices via bondade e, inexplicavelmente pelo pouco tempo que passaram juntos ele pode sentir o carinho como o de sua mãe já falecida.
Mais um dia amanheceu, a cidade já não estava silenciosa ;havia movimento e o garoto abriu seus olhos para um novo dia.
Como de costume logo pela manhã o menino saiu para dar uma volta e,foi quando passou em frente a uma lancheria; ele olhou para o interior dela e se deparou com uma terrível noticia que estava passando na televisão que ficava perto do balcão, ao lado da mesa quatro.
A noticia informava que uma moça havia sido encontrada morta em um matagal quando voltava de uma ONG onde era voluntária; o corpo foi encontrado com sinais de agressão e o culpado ainda não havia sido identificado. Ullices chorou quando viu através da imagem mostrada que a moça era a Zenety, justo ela quem tinha devolvido a ele a vontade de viver.
O repórter informou o local que o corpo seria velado; e o garoto arrasado foi a um terreno baldio e, apanhou várias flores. Ele foi agradecer e prestar suas homenagens a Zenety .
Duas semanas após esse trágico acontecimento, Ullices estava sentado em seu colchão velho quando uma menininha sorriu e abanou a mão para ele; por coincidência a menininha estava em um táxi com um homem que certamente era seu pai.
Mais uma vez a esperança tomou conta de Ullices e em instantes seus sonhos foram reconstruídos. Ele olhou para o céu e, disse:
—Deus, eu vou esperar!
E para nós ficam algumas perguntas a serem respondidas.
Será que as pessoas que dizem que veem tudo, realmente contemplam e sabem observar com clareza os pequenos detalhes que poderiam mudar o mundo ao invés de guardar na memoria imagens de coisas banais que os olhos captam? E será necessário que a menininha do táxi cresça para que Ullices seja ajudado para sair daquele viaduto?