Rabiscando
Lágrimas secas, essa era a sensação que tinha, pois o coração doía, mas os olhos não conseguiam transbordar.
Ela tinha sentimentos. Olhou para o lado, o relógio parecia parado, de tão devagar que se arrastavam os ponteiros. Internamente ela gritava, sufocando o que momentos antes teve vontade de dizer, tão abertamente.
Covarde. Ouvia, repetidamente. Covarde....
Mas ela não podia dizer, não poderia sequer demonstrar, embora estivesse falhando nessa parte. Sempre tinha conseguido mascarar, disfarçar tanta coisa.
Não sabia mentir, nem omitir, mas com relação ao sentir, esse sim, não sabia nem como lidar.
Fechou os olhos, e o cheiro voltou a sua lembrança. E trouxe junto esboço de sorriso, meros traços rabiscados.
E o sketch que só existia em sua mente se dissolveu, embalado pelo vento e pela chuva que a trouxeram de volta para a monocromática realidade.
Adriana A. Bruno