Janeiro
Época de férias escolares, janeiro é o mês ideal para passeios, viagens e excursões.
Tempo muito esperado pelos estudantes. Tempo adequado para
paqueras, namoros e curtições, seja em praia, campo ou fazenda, que importa mesmo é sair de casa em busca de novas emoções.
Jovem de família humilde, Rui,a convite de seu melhor amigo, consegue autorização de seus pais para passar o mês de janeiro em Riacho Doce, município da grande Maceió.
Contava apenas com dezesseis anos e nunca tinha saído de sua terra natal. Em Junqueiro crescera e se criara. Lá era seu mundo. Como era comum a todo garoto de sua idade, tinha sonhos. Fazia planos para o futuro. Bastante estudioso, queria ser médico. Queria estudar
medicina na Ufal. Estudante de escola pública, ele tinha consciência que teria que ralar muito em busca desse sonho. Como era de praxe, sempre tirava as melhores notas da sala. Sempre era elogiado por seus professores, motivo de inveja de seus colegas de sala por seu desempenho
nas atividades escolares, ganhou de seus pais a autorização para passar o mês de férias na praia.
Ainda meio que sem acreditar que pela primeira vez iria sair de Junqueiro e conhecer a capital, arrumou sua mochila, calçao de banho,ca
miseta, óculos de sol, protetor solar, pois nessa época do ano, o sol de Alagoas é de rachar, dizia seu amigo Fernando.
Na terça-feira às 05:00h,lá estava Rui em frente ao Bar do Goití,no centro da cidade esperando pelo amigo que lhe fizera o convite para es-
sa viagem de férias. Às 5h e 10m chega Fernando. Atrasara alguns minutos pois, como era de costume, ficara ouvindo os preciosos e com um pouco de exagero os conselhos da mãe.
_Cuidado com o mar porque é traiçoeiro, não toma muito sol. Toma bastante líquido, obedeça sua tia, liga-me todos os dias...relatava a seu amigo que também ouvira o mesmo de sua mãe.
A chegada do ônibus da prefeitura, interrompe a conversa entre os amigos.
Por tradição junqueirense, todas às terças-feiras, o ônibus da prefei
tura, leva pacientes para determinados hospitais e clínicas na capital. Al-
guns passageiros viajam em pé, pois não há assentos disponíveis para to
dos. Ficha para "sentar" só consegue quem madruga na porta da secretaria e quem vai passar no médico, como dizem.
O ônibus segue viagem pela BR 101 rumo a capital de todos os Alago-
anos. O burburinho é geral. Mães com suas crianças, jovens, adultos todos conversam ao mesmo tempo. O papo é sempre o mesmo: exames, internações, enjoos, tonturas, dor de cabeça, nos rins, na bexiga ...
Nada disso interessa aos amigos. Ansioso, Rui não vê a hora de che -
gar a capital. Pois, pela primeira vez vai conhecer Maceió, ainda que de passagem , pois o destino é Riacho Doce, um povoado com praias belíssimas no litoral norte do Estado das Alagoas.
e ele não vê a hora de cair naquelas águas mornas, ora azuis, ora esverdeadas em qualquer tonalidade ,aquelas águas salgadas são sempre um convite irrecusável para um bom mergulho.
Ao chegar em Maceió por voltas das 7:00h ele fica fascinado. Tudo para ele é novidade. Os dois amigos descem na Praia da Avenida. Onde
pegarão outra condução para o destino. Fernando que já morou na capi-
tal ,mostra-lhe alguns atrativos da cidade, comentando sobre alguns
pontos turísticos que conheceu. O ônibus coletivo chega lotado. Os dois entram espremidos.Todos teem pressa de entrar. A cidade tem pressa.
Ele estranha o comportamento das pessoas. Fernando explica-lhe que
numa cidade de grande tudo se faz às pressas, pois as pessoas tomam
várias conduções para chegar ao trabalho, por isso, a pressa para entrar e a pequena quantidade de ônibus torna-se insuficiente para atender
toda a demanda. Indiferente a tudo isso, e também bastante curioso, Ele não pode deixar de comentar:
_Quero ser médico. Quero cuidar do estresse dessas pessoas. Seu a-
migo ri de sua ingenuidade.
_Tomara que você consiga, meu caro, médicos não podem mudar o mundo - comenta Fernando.
_E os políticos podem?
_Se quiserem, responde Fernando.
Eles riem. Rui, por sua vez, fica admirando tudo a sua volta encanta-
do com as belezas da capital.
Ao chegar em Riacho Doce, descem na praça principal do Povoado.
Seguem rumo à casa da tia de Fernando. Bastante distraído, pois para
ele tudo era novidade. Ao tentar livrar-se de um carro que passa em alta
velocidade, Rui tropeça em uma garota que vai passando e cai, mesmo
assustada, a garota ajuda-o a levantar-se tentando entender o que a-
contecia. Fernando parece não perceber o que aconteceu, se aproxima da garota e diz.
_Qual o seu nome?
A garota tímida e meio cabisbaixa balbucia - Elaine. Se afasta seguin-
do seu caminho. Fernando grita para Rui:
_Viu o que você fez? Assustou a menina. Você está bem?
Rui meio tonto e ainda assustado;
_Não foi nada. Estou bem.
Ao chegarem na casa da tia de Fernando, os dois são bem recebidos e
bem acomodados.
Após fazerem um lanche, Fernando comenta:
_E ai, cara,está gostando da capital? E aquela garota que você quase
a derrubou, era uma gata.
Distraído ele concorda. Não tirara da cabeça aquela garota. Não
entendia o que estava acontecendo. Como não tirar da cabeça uma
garota tímida que acabara de conhecer? Pensou. Bobagem. Seus
pensamentos se desfazem ao chamado de Fernando:
_ Vamos dá um mergulho na praia?
Na praia, para Rui tudo é novidade. O vai e vem das marés. as pou-
cas pessoas se bronzeando na areia e alguns pescadores que se vê ao
longe. O sol de rachar. Faz um calor insuportável. Decide cair na água. Se delicia com com as águas mornas daquele mar calmo de águas verdes e azuis.
Ao mergulhar em outro ponto da praia, como por coincidência encontra Elaine Estava com algumas garotas .Sente vontade ir até
ela. Mas o que dizer? Mal a conhecia. Parece que ela também o reconheceu .Percebe que ela também o olha. Ele sente uma sensação estranha. Nunca sentira
aquilo antes. O que estaria acontecendo? Nesse instante Fernando se a-
próxima, mesmo de longe reconhece Elaine e acena, ela o ignora e sai
da água com suas colegas. Irritado com a atitude de Elaine ele comenta:
_Garota idiota. Pensa que é a única gostosa dessa praia. Nem é tão bonita assim. Tem até uma barriga grande. Você percebeu, cara?
_Oi...É... Acho que sim- concordou o amigo.
Os dias passam rápidos naquele pedaço de paraíso. Os dois jovens
da mesma idade, e amigos desde a infância, curtem o sol, às praias.
Correm pelas ladeiras do povoado. Aproveitam e exploram, todas as belezas daquele lugar privilegiado. Todos os dias ele estavam na praia. Rui mantinha a esperança de encontrar aquela garota. Tentativas em vão. Fazia uma semana que não a via e pergunta-se: onde estaria Elaine?
No sábado á noite, um colega de Fernando convidou os dois jovens
para um show de pagode em um famoso bar do povoado. O grupo de
pagode Gingado de Arapiraca, cidade do agreste alagoana, iria se
apresentar em Riacho Doce. Autorizados pela tia, lá se foram os três jovens para o tal bar para o show.
Chegando no local, escolheram uma mesa mais discreta. O bar estava lotado. Jovens ,mulheres, crianças e adultos, enfim, parece que toda a
população daquele povoado estava naquele bar. O show tem início. To-
dos parecem se divertir. Rui tem vontade de ir ao banheiro. Ao passar
por entre as mesas, vê Elaine com um jovem. Não teve como disfarçar
lo olhar. Deveria ser seu namorado, pensou. Pelo grau de intimidade do
casal. Não chegou até ao banheiro. Voltou para junto dos amigos. Na
mesa estava inquieto. A imagem da jovem com aquele cara não lhe saía
da cabeça. Estava triste. Passou tantos dias em busca daquela garota. Buscou-a em silêncio, e, ao encontrá-la nos braços de um cara, seu mundo desabou.
Pela primeira vez estava gostando de alguém. Estava triste e desolado.
Estava assustado. Estaria apaixonado? Não suportando mais ficar na-
quele bar, inventou uma desculpa qualquer aos amigos e saiu daquele
local. Correu em direção à praia. Era noite. Estava escuro. Sentou na
areia. O vento forte, barulho das ondas e a escuridão eram sua companhia. Chorou.
Desesperadamente. Chorou como uma criança com saudades de casa.
Ali, naquele momento, passou um filme de sua vida. A saudade de casa,
as recomendações da mãe, sua infância em Junqueiro, colegas da
escola, o sonho de ser médico. Desejou que a noite passasse rápido,
Rápido como aquele vento forte e estridente. Sentiu frio. Queria ir embora daquele lugar sombrio.
Riacho Doce não teria mais nenhum sentido. iria embora logo ao
amanhecer. Ensaiou muitas vezes como se aproximar de Elaine, de como falar de seus sentimentos. Ao vê-la com outro cara o sonho desabou. O
janeiro que seria um acontecimento, tornou-se um pesadelo. Queria sair -
daquele lugar o mais rápido possível. Jurou a se mesmo que esqueceria aquele lugar. Nunca mais voltaria ali.
Ao levantar-se para ir para casa onde estava hospedado, vê quando
sua amada passa com o tal homem dentro de um carro de luxo. Bastante sorridente e parecia muito feliz. Ficou desesperado, Não
sabendo como lidar com a situação, entra no mar. Joga-se cada vez mais mar a dentro, quer sumir, desaparecer, deixar aquele maldito lugar para sempre...
Domingo ao amanhecer, onde ainda reluzia os primeiros raios de sol ,populares encontram o corpo de um jovem estendido na areia fria e úmida da praia.
Rogério Lima
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