Devaneios de uma mulher "média".

Eu sou medíocre por excelência: faço parte. Eu 'participo' de uma sociedade que para dizer o mínimo sofre de demência. No entanto, sempre fui uma mente inquieta. Eu não me contento em fazer parte. Quero martelar e martelar e martelar...

Eu não nasci para compartilhar valores, eu vim para destruí-los. Essa mentalidade de merda que nos assola me soa como bostas subterrâneas. Na realidade, eu não estou a fim de abrir mão da minha parcela mínima de autonomia para conviver em sociedade.

Estamos aprisionados política, econômica, social, moral e fisicamente. Regidos por leis naturais, sistemas políticos, classes sociais, princípios morais e tudo o mais. Não me conformo com isso. Essa democracia é uma tirania dos idiotas.

Liberdade? Uma utopia. Nunca conseguiremos nos desvencilhar das leis naturais por exemplo. Mas nem de longe significa que temos de ser como gados. Podemos ter um pouco de liberdade, não a sua totalidade. E é por esse pouco de liberdade que eu luto.

Com os olhos ainda fechados, sinto a presença de uma pessoa no meu quarto. É Eduardo: Ele também está deitado na cama e interrompeu os meus pensamentos, quando me tocou a mão.

- Eduardo, você já acordou?

- Sim.

- Já terminou a sua tese, não é?

- Terminei.

- Eu estava pensando.

- Você sempre pensa demais- ele disse.

- O que você acha das minhas ideias?

- Sei lá, são bem estranhas. Você aproveita algumas ideias nietzschianas e outras um tanto quanto marxistas: sistema opressor e coisa e tal. Você sabe que uma não tem nada a ver com a outra.

- Eu sou estranha?

- Sim.

- Você acredita em amor, Eduardo?

- Não acredito no amor como uma ideologia capaz de resolver todos os problemas do mundo. É só um sentimento de afeição e tudo o mais,sabe? Ele realmente existe, mas não esse sentimento redentor e puro como alguns pensam que é. Não vejo obrigatoriedade do amor ser tão sublime, porque se assim o fosse só pessoas perfeitas poderiam amar. É claro que o amor se mistura com outros sentimentos " inferiores''. Ele não é puro... As pessoas amam, mas amam com todas as suas falhas juntas.

- Também penso assim. E sobre os valores, o que você pensa?

- Não vejo tanto mal em ter valores. Eles são um norte, uma alternativa para a vida não ficar vazia, mas prefiro não ter os valores comuns, sou mesmo imoral.

- Sabe, eu sonho demais. Às vezes, penso que sou capaz de mudar o mundo. E penso que a maioria das pessoas que dizem ter valores é hipócrita.

- Isso é generalização, meu bem. - Ele disse fitando-me nos olhos.

- É a realidade.

- Vou voltar a dormir. - Ele disse.

- Tudo bem!

Então, voltei-me novamente aos pensamentos heterodoxos.