Amizade
Ela sempre prezara suas poucas amizades. Fazia o que podia para ajudar, preservar. Enfim, como amiga era uma pessoa excelente. Estava sempre apoiando todos, sem jamais levar-lhes seus dramas pessoais. Pelo contrário, mostrava que a vida pode ser bela e não os deixava com o astral baixo, elevando-o com palavras de esperança e fé na vida.
Mas há dias ela se perguntava o que fizera de errado para um amigo, a quem admirava muito, para que houvesse um afastamento e, até mesmo, um certo descaso.
Voltava no tempo e via que sempre teve amigos fiéis. Alguns morreram, faz parte da vida. Mas outros ela mantinha há décadas e eram amigos para qualquer momento.
Um amigo, em particular, que ela conhecia há quase 37 anos, estava sempre ali, por perto, caso um precisasse do outro. E sempre falavam bem um do outro aos demais. Admiravam-se muito, apesar da imensa diferença de idade. O amigo era um hippie eterno, no jeito de ser, de amar as pessoas, de ver a vida. Uma pessoa do bem. Tendo criado 5 filhos praticamente sozinho, desde que a mulher o abandonou, ela já participara da missa de sétimo dia de 2 deles. E sentia-se imensamente triste ao ver o sofrimento do amigo. Quando o irmão mais novo dele morreu, e que ela adorava, a dor dos dois foi intensa. Ela sofreu durante 2 anos essa perda, pois eram amigos desde que ela tinha 8 anos e ele 5. Durante a vida nunca se afastaram por muito tempo um do outro. Havia um forte laço que nem as piores brigas, quando ambos eram adolescentes e se batiam como 2 crianças, desmancharam. Um acidente de moto, aos 40 anos o levara para sempre. Ela e o irmão dele estavam ainda mais unidos pelas dores.
Enfim, seus amigos eram conservados para sempre, mesmo os que haviam, em determinado momento, sido namorados. Sempre algo maior os unia. E agora essa situação inusitada. Um amigo, pessoa que ela admirava e respeitava, agindo de uma forma totalmente diversa do que ela esperava, se afastou. E ela não tinha feito nada que os levasse a esse afastamento. Sentia falta da amizade, do laço. Isso a fez desmoronar a tal ponto que ela sempre se perguntava o que teria feito de errado para que isso ocorresse. Era a primeira vez que passava por uma situação tão deprimente assim com um amigo.
E ela gostava imensamente dele, mas ... a vida tem peculiaridades que não conseguimos jamais entender. Será que perdeu para sempre o amigo? Se for assim, vai doer muito mesmo.
Tentar entender o outro é algo muito difícil. Talvez o tenha visto de uma forma distorcida e ele não fosse exatamente como ela pensava, ou o contrário. De qualquer forma, após isso, ela sentia que não poderia ser mais a mesma pessoa. Foi um aprendizado cruel e dolorido. Mas tudo bem, ainda havia o amigo de sempre, de décadas, sempre fiel, irmão, parceiro, com quem mantinha uma relação tão boa que quando o abraçava, sentia uma energia maravilhosa e altamente positiva, daquelas energias que fazem com que se deseje que o abraço nunca mais se acabe. E ela saía do abraço carregando aquela energia deliciosa que só os realmente amigos são capazes de nos proporcionar.
Mas ficar nessas reminiscências e questionamentos vãos não vai fazer sua vida ser melhor ou pior. O problema é que a razão sempre a impedia de aceitar os fatos, nunca explicados, sem buscar a origem de tudo.
Hora de deitar e se desligar. A vida não para. “O tempo não para”, já dizia o poeta.
Campos dos Goytacazes, 22 de janeiro de 2014 – 23:25 horas
Para o meu grande e adorado amigo Nilo Arêas Filho