À Margem ( parte 3 )
"Ao acordar do ultimo sono que tive ainda encarnado naquele corpo sofrido e doente, tive uma grande surpresa , no lugar onde acordei tudo era absolutamente alvo.
Mas não era só isso as pessoas que por ali circulavam, irradiavam um reflexo iluminado, e apesar das dores que eu ainda sentia , percebia que aqueles reflexos também me alcançavam, me envolviam, e a sensação que experimentei em meu peito, era até então desconhecida para mim, na lembrança do tempo de minha existência, não tinha recordação de ter vivenciado tão genuíno sentimento, tão leve sensação, o que eram aquelas terríveis dores que me acompanharam, diante de tão suprema sensação de amor que se espalhava por cada espaço daquele lugar, fiquei extasiado com a surpresa, enquanto continha as minhas dores não conseguia pensar direito, onde estava, que lugar era aquele, como e por que fora levado até ali?
Pude perceber que tinha ali muitas camas e eu ocupava uma delas .
Quando finalmente consegui pensar no que poderia ter acontecido, teria eu morrido? Um senhor de cabelos e barba brancos, de feição totalmente amorosa como quem tivesse conseguido decifrar a expressão do meu pensamento, consentiu com a cabeça em movimento afirmativo, e em um tom extremamente acolhedor disse que eu já não estava entre os encarnados, que eu continuava vivo pois o espírito é eterno, mas que meu corpo físico já não existia mais, que as dores que eu ainda sentia, eram agora do meu espírito que apesar do arrependimento e do anseio por socorro e por perdão, diante dos meus atos e atitudes cometidos, havia ficado por muito tempo a mercê da vingança daquela de quem eu havia ceifado a vida, e de muitos que por motivo semelhante também tiveram suas vidas tiradas, essa legião de espíritos rebeldes agora desordeiros, vingadores, dominados pelo ódio tinham naquele ambiente de prisão lugar onde passei muitos anos de minha vida, o cenário perfeito para se alimentarem, e fomentarem ainda mais seu ódio, obsediando , incitando, induzindo aqueles detentos momentaneamente desprovidos de sua consciência original distantes de sua centelha divina, de sua essência interior, de amor, a qual cada ser foi criado, inclinarem-se a praticarem ainda mais ações contra a lei do amor e da fraternidade, esclareceu-me aquele senhor, que meu corpo físico havia adoecido pelos abusos e torturas sofridos no decorrer daquele tempo, mas meu espírito durante muito tempo corroído pela culpa e pelo remorso também foi enfraquecendo, e estava também muito adoecido, mas através do arrependimento real que passei a sentir havia alcançado o socorro tão aclamado, e assim logo após ser desligado do corpo físico recebei ajuda e socorro, do contrário teria permanecido naquela prisão mesmo após o desencarne, e me tornaria prisioneiro de vingadores desencarnados, acusado e condenado ainda por aquela moça, a continuar sendo torturado por tempo indeterminado.
"Assim ela determinou, ela que permanece em posição de comando desde que o acompanhou até aquele presídio, quando foi preso por assassina-la, sua posição ela conquistou graças a todas as atrocidades que cometeu, comanda um grupo de espíritos perversos, não quer ajuda, não quer avançar nem evoluir, e está furiosa por termos lhe tirado de lá dos domínios dela...
Mas por hora já basta, chegará o momento de saber mais, agora já sabe que foi socorrido e que está em um hospital espiritual, preocupe se com sua recuperação, tenho medicamentos para você, provavelmente durma por mais algum tempo, e nesse momento acredite vai lhe fazer muito bem. "
Ele aplicou o medicamento na região do antebraço, eu já estava acostumado a aplicações, ele pediu licença e se retirou.
Por mais que houvesse em mim certa inquietação, aquele ambiente tinha uma energia, que me harmonizava, apesar da sensação de estar fora da realidade, ou pelo menos, a realidade à qual estava acostumado, tinha medo do desconhecido, mas não rejeitava aquele momento, ao contrário consegui me sentir feliz por estar ali, depois de um tempo as dores cessaram e eu adormeci..."
Continua no texto À Margem ( parte 4 ) final