O DIA DO SENHOR

Os seis soldados saíram do rancho após o jantar, por volta das 17:45 hrs, depois jogaram a sobra de suas bandejas no latão de lixo, que sempre estava imundo, sentaram-se nos degraus e ficaram esperando o sargento de dia, que os conduziria de volta à Companhia.

- Pelotão em forma em coluna de três – Disse o Sargento ao chegar.

Os soldados se levantaram e ficaram em forma, em duas colunas de três.

- Sentido.

- Em direção à Companhia, marche.

O pelotão, formado pelos soldados que estavam de serviço na Companhia naquele sábado, nos plantões de alojamento, banheiro e garagem, seguiu rumo a Companhia, onde outros três soldados que estavam na hora seriam substituídos às 18 horas.

O pelotão seguiu pelos fundos do quartel, passou pelo cassino dos sargentos e depois por uma parte quase desativada do quartel, mas à frente ficava a guarda 2 e a cadeia. Ao passar pela cadeia o último soldado da coluna da direita falou bem baixo ao soldado da coluna da esquerda.

- Tem um cara preso ai, dizem que há anos, nem recebe visita, ninguém sabe o que fez.

- Deve ser comunista – Disse o último soldado da esquerda.

- Na semana passada eu estava de guarda na área de instrução, perto do primeiro paiol, fiquei olhando o salto noturno dos paraquedistas e vi quando um desceu direto, o paraquedas não abriu, ouvi o grito do soldado que ecoou no céu, era o grito da morte, acho que nunca mais esquecerei aquele grito.

- Pelotão, alto – Ordenou o Sargento.

O pelotão parou imediatamente.

- Descansar – Ordenou novamente o Sargento.

Os soldados ficaram em posição de descanso, obedecendo os comando como se fossem animais adestrados.

- Quero silêncio durante o trajeto, nada de conversas – Disse o Sargento.

- Sim Senhor, Sargento – Responderam todos.

- Pelotão, sentido.

- Em direção à Companhia, marche.

O pelotão seguiu em silêncio até Companhia, entrou no pátio e em frente a entrada do alojamento o Sargento ordenou:

- Alto.

- Descansar.

- Ao meu comando, fora de forma e lavar as bandejas.

Antes de o Sargento ordenar o último soldado da coluna da direita levantou a mão.

- Fale soldado.

- Sargento eu posso fazer uma pergunta?

- Pode.

- O que fazemos aqui?

- Como assim?

- Por que estamos aqui?

- Temos o dever de defender a Pátria soldado.

- Eu não vejo nada de útil no que ensinam aqui, no que estou aprendendo.

- E o que você aprende aqui?

- A matar meus semelhantes.

- Errado soldado, você aprende a defender a Pátria dos seus inimigos.

- Não Sargento, eu não tenho inimigos, sendo assim, vocês me ensinam a matar semelhantes, nada mais.

- Número soldado.

- 735, Senhor.

- Pelotão, fora de forma – Ordenou o Sargento e prosseguiu:

- Você não 735, você fica.

Arnoldo Pimentel