Um mundo que não conheço
No centro da cidade. Procurando uma máquina fotográfica. Estava difícil de se encontrar uma boa máquina.
Depois de muito andar, encontrei uma loja, meio escondida; mas não custa nada tentar. As aparências enganam. Entrei na loja. Havia somente um velhinho atendendo.
- Meu senhor, preciso de uma máquina. Qual você pode me oferecer?
- Nenhuma!
- Como assim?
- Não posso vender essas máquinas. Elas não são para qualquer um.
- Não entendo.
- Essas máquinas são somente para pessoas puras. Se você não é, ela não funciona. E também não são para tirar simplesmente fotos. Elas vêem algo mais. Então como disse não são para qualquer um.
- Mas eu sou puro!
- Tem certeza?
- Sim!
- Tudo bem. Se você passar no teste. Pode levar uma.
- É o seguinte. Vá até lá fora e me diga o vê.
Sai do estabelecimento. Do lado de fora. Só via um dia ensolarado, pessoas andando pelo calçadão e muitas lojas. Nada mais. Mas o que aquele velho quer dizer. Observei mais; mas nada mudou. Voltei para falar para o velho.
- Então o que viu?
- Vi que está claro, pessoas e lojas.
- Só isso?
- Sim.
- Você não conseguiu. Vou te mostrar o que tem lá fora.
O velho pegou uma câmera e foi para fora. Olhava e tirava várias fotos.
- Por que você está fazendo isso?
- Porque se eu te falar você não vai acreditar.
O velho voltou para a loja. O segui. Disse-me para esperar e entrou numa porta do fundo. Depois de meia hora voltou com um monte de foto na mão.
- O que você vê?
- Imagens distorcidas. Mas o que é isso?
- O mundo.
- O mundo?
- Sim. O mundo que vivemos. Vivemos num mundo vazio, distorcido, preto e branco. Mas ninguém percebe isso.
- Por isso que você não pode levar a máquina. Por isso disse que era somente para pessoas puras. Você não pode ver essa verdade.
- Mas eu vi!
- Não, você não viu.
- O que?
- Isso mesmo, você não viu; porque está dentro de uma delas.
Quando percebi. A minha vida toda foi uma mentira. Tudo uma só coisa.