O Presépio Vivo
O Presépio foi um sucesso! Colocado na praça principal da cidade foi apreciado pelas centenas de pessoas que saíram da Missa do Galo. Os Organizadores apareceram para dizer-lhes que, assim que apagassem as iluminações públicas deveriam recolher a vaca e o burro ao estábulo do senhor Regedor e poderiam dar a tarefa por concluída. Para o pagamento passassem na Câmara depois das férias de Natal. Cansados, arrastaram-se até a casa se é que se pode chamar assim as ruínas que habitavam. Enrolados em mantas faziam frente ao frio e o bebé mamava finalmente. Sem o manto da Senhora, Josefa voltou a ter o ar desgrenhado da miséria e Gilberto, apesar do corpo saudável e jovem, mostrava-se agastado pela falta do dinheiro que só depois lhe pagariam. - Que noite, hein, mulher! Aqueceram o caldo das couves, fizeram as migas com sobras de pão, fritaram o carapau e comeram com apetite. O resto da garrafa de tinto desapareceu no repasto. Depois, acomodado o menino no caixote que lhe servia de berço, olharam-se. Josefa, sem dizer nada, limpou as lágrimas às costas da mão mas vendo o homem de cenho fechado, sorriu. – Amanhã será outro dia, disse. Recomeçaremos onde for possível, não é? Ele sorriu também, concordando. O cão enroscou-se no tapete junto à porta e eles, cansados de fingir santidade numa imobilidade absurda, amaram-se com a vontade de sempre.