Fala baixo!

Pedrinho e Lucinha, dois irmãos, dois amigos. Viviam a brincar, onde quer que estivessem, sempre o casal, unidos como irmãos e amigos.

Lucinha, mas calma, como é da natureza das meninas, ficava à mercê, muitas vezes, das traquinagens e das ordems de Pedrinho.

Sua lista de diabruras incluía algumas passagens que ficariam gravadas em suas memórias pela vida toda.

Sempre os dois, sempre Pedrinho a usar Lucinha como vítima de suas loucuras.

— Lucinha, vamos brincar?

— De quê?

— Jogar bola.

E iam jogar bola. Lucinha, garotinha, não sabia nada do jogo. Pedrinho tirava proveito da situação para enganá-la e vencer as partidas.

— Lucinha, vamos brincar?

— De quê?

— De se esconder.

Novamente, usando sua astúcia, Pedrinho enganava a irmã, escondendo-se em locais difíceis e não guardando a devida posição quando a vez de procurar era sua. Ficava olhando de esguelha, olhos semiabertos, para ver onde a irmã se escondia.

— Achei você!

Certa vez, em uma de suas traquinagens, Pedrinho, por acidente, lança areia nos olhos de Lucinha. Ela foi socorrida e precisou de repouso por alguns dias, olho com tampão, triste...

— Lucinha, vamos brincar?

— Não!

— Por quê?

— Não posso. Você feriu meu olho.

Do jeito que era danado, era destemperado, também.

No quintal de sua casa (um sítio onde havia várias fruteiras e vasto campo para as brincadeiras de todas as espécies), sempre estava a subir em mangueiras, cajueiros, e tirar as frutas, maduras ou verdosas (a ele não importava), alimentando-se ainda antes de descer das mesmas.

— Lucinha, queres manga?

— Quero.

— Vem tirar comigo!

E assim ia:

— Lucinha, queres caju?

— Quero.

Dali de cima, mesmo, lançava o caju recentemente tirado, bem amarelinho, para a irmã pegar. Coitada, não tinha tanta habilidade, e o caju espatifava-se no chão, estragando-se.

— Menino, deixa de fazer assim! — reclamava Dona Marta, sua mãe.

— Tira esses cajus com cuidado e dá a tua irmã! Deixa de fazer assim!

Outra vez, ele chama a irmã:

— Lucinha, queres jambo?

A mãe, ouvindo-o chamar Lucinha, diz:

— Não, senhor! O pé de jambo é do sítio de Dona Adelaide.

E, na tentativa de acrescentar-lhe, na educação, o respeito pela propriedade alheia, diz:

— Dona Adelaide não gosta.

E continua:

— Não, senhor!

Chateado com a negativa da mãe, ele fica calado, sem nenhum pensamento oportuno para continuar suas aventuras.

Dona Adelaide não era uma mulher de se importar que lhe tirassem os jambos. Bem o contrário: tinha pelos dois uma grande simpatia. Vivia a presenteá-los com pequenas coisas, bombons, frutas etc.

Mas a admoestação de Dona Marta deixara Pedrinho receoso de ser flagrado com jambos na mão, pois poderia receber mais um carão da mãe ou, talvez, algum castigo.

Passam-se alguns dias, e eis que Lucinha, tendo às mãos um cacho de jambo, oferecido por Dona Adelaide como um mimo, grita:

— Pedrinho, queres jambo?

Ao ver os jambos nas mãos da irmã, e não entendendo por quê, imagina que a mesma os tirara sem permissão.

Não pensou no castigo que a irmã poderia receber. Pensou, isto sim, na zanga da vizinha, que vira seus jambos serem tirados sem sua autorização.

E ele, sem notar que estava próximo ao sítio da vizinha, e que esta vinha a seu encontro, com um cacho de jambos na mão, para lhe entregar também, grita, a plenos pulmões:

— Fala baixo, senão a mulher ouve!