Despedida...( Parte 1 )
" Estou me reportando ao ano de 1865, são seis horas da manhã, minha cabeça ferve ao assistir tão terrível cena.
Sentada à beira da porta totalmente sem ação, vejo o corpo de minha mãe estendido ao chão, fiquei paralisada não consegui me aproximar, apenas gritava desesperada por socorro.
E logo veio a guarda local e constatou que ela havia sido alvejada com um golpe de faca, único e certeiro, pois já estava sem pulso, não tinha mais vida, entrei em desespero ainda maior, e enquanto providenciavam para levar o corpo de mamãe, fui fortemente sedada com forte medicamento, de outra forma não suportaria tamanha dor.
E sedada permaneci até muitos dias depois do sepultamento de seu corpo.
Já há muito tempo mamãe vinha levando uma vida, que saía e muito dos padrões da sociedade daquela época, onde ser mulher era sinônimo de submissão, e obediência, era viúva já há um bom tempo, mas mesmo em tempo de casada sempre viveu o que tinha vontade contrariando as regras de moral e conduta impostas pela sociedade da época, se prejudicava alguém, bem, só se fosse a si própria, pois a única coisa que fazia era simplesmente viver a sua vida, e naquele dia ou naquela noite, provavelmente chegando em casa pela madrugada alguém fatalmente a acertou, golpe certo, provavelmente um de seus afetos, ou desafetos pois da forma como escolheu levar a vida adquiriu muitos amigos e inimigos também.
Um crime que não foi solucionado, pois enquanto tive vida ainda não haviam encontrado o malfeitor, aquele ou aquela que tirou a vida de mamãe.
Mamãe era o próprio escândalo daquele tempo, havia sido desposada ainda muito nova, embora fosse minha mãe, nossa diferença de idade era de dezesseis anos apenas, e não aparentava jamais os sessenta anos que tinha, eu mesmo já parecia mais senhora do que ela.
A frente de seu tempo, à sua maneira, muito vaidosa, e adorava flertar, sentir-se admirada, para mim não importava o excesso, mas à nossa volta a discriminação era total.
E agora aquele atentado, todos vieram olhar, e se escandalizar, os comentários era geral, de como a promiscua, a meretriz, a mãe da escritora, aquela que escreve sandices, tivera seu fim, deveras um de seus amantes a assassinou... E assim os comentários rolaram por muitos dias.
Mas isso em absoluto me incomodava, não tinha como, a dor da perda era maior, tomava completamente conta de mim, mamãe e eu éramos duas em uma pessoa, era assim como eu sentia.
A partir daquele fatídico dia passei a me fazer tantas perguntas todas sem respostas, e nem imaginava o que estaria por vir, onde eu me lançaria, até onde poderia ir movida pelo apego extremo que tinha por mamãe.
E então minha vida foi perdendo o sentido, me entreguei à dor, a medida em que o tempo ia passando, a saudade também ia aumentando, e desenvolvi em mim total desprezo pela vida, a minha vida.
Alcancei um estado muito critico de abandono de mim mesmo, não me alimentava direito, depois de um tempo nem banho mais eu tomava, e assim fui me entregando sem sentir nem perceber fui afastando todos que ainda de alguma forma se preocupavam comigo, e tentaram por muito tempo me ajudar a sair daquela situação lastimável a qual me entreguei completamente .
Dentro desse quadro de depressão profunda não podia ser diferente, já estava doente, e meu corpo recebeu o reflexo de toda essa dor e desse abandono, foram detectados vários tumores pelo meu corpo, já avançados pois não havia cuidados, só descobri depois de passar a sentir muita dor, eram dores insuportáveis, e ai tomei consciência não havia o que fazer, estava condenada, sozinha, doente, entregue ao total abandono que eu mesmo criei.
Nesse momento, impressionantemente, tentei juntar forças que eu já não possuía, para reagir,pois já sabia que o que me esperava era a morte e dessa eu tinha imenso pavor e ainda lutei para sobreviver, pelo medo que tinha de morrer.
Mas foi em vão, já estava muito fraca e não demorou muito fui acometida de uma infecção no pulmão, e assim constatado tuberculose, com esse quadro inevitavelmente, morte certa, desencarnei."
Continua... ( parte 2 )