O NASCIMENTO DO PRIMOGÊNITO DE LÍGIA MULATA
 

 
 





 
Na boca púrpura, os lábios oceânicos apunhalam a lua  – fêmea em ânsia espasmódica -  espelho nu – tatuado e intenso sombreado nas pálpebras, brincos luzentes nas orelhas consteladas - na órbita facial do cometa cerúleo, os negros olhos de Lígia Mulata. Na concretude arquipelágica e panorâmica, a  lembrança silenciosa do mapa ultrassonagráfico, que há dias fora ciscado por Lígia, ficara refletido em sua memória. Um dilúvio de tons elétricos e celestes preenche o coração, é a branca nuvem aureolada da gênese do seu primogênito.
 
Na ampliada caixa de música rósea, exposta na penteadeira, a bailarina – o cisne branco – no feixe do palco iluminado,  sapateia passos odoríferos.  E passam-se os dias... E vêm os aspectos ondulados, o archote retesado da tocha lunática.  Súbitos espaços se ampliam, o ventre curvilíneo, ora serpenteia e todas as caravelas da felicidade estão aportadas. E passam-se mais dias... Dias de esperas e de totais angústias.  Será menino ou menina? – pensa e repensa - Lígia. Será o meu Glauco? Ou será a minha Janaína?.
 
Nas madrugadas, ela sempre ouve o pulsar penetrado e selvagem da carne vivente na ampola, cálice do seu corpo, sente o gotejar das lágrimas espelhares no rosto do eternizado prumo prismático, o juízo aguçado de quem tem o espírito prudente.  Ora ouvem-se o adorno plácido do júbilo outonal e o galope exímio das nuvens pródigas soarem  trombetas. De repente: o plumoso dorso pede colo – o marchar iluminado da vida e seus cristais somam-se ao brilho labiríntico e idílico – a força civilizadora da natureza do amor de mãe. Lígia sente o ofegar exuberante e trépido do lacoso, de um novo amanhecer  em seu ventre. Contemplado enigma que somente Deus explica: o ruído ecoado.
 
O ouvido do médico atenta-se  nas contrações dilatadas da barriga de Lígia. E diz: uma nova vida – um novo ser, másculo e com torre retilínea.  Nascerá na noite resplandecente de Natal...
 
Que surjas! Circundas o ciclo das estações, adentras a página branca e odisseica das constelações – Meu filhinho Glauco de Jesus, a natureza - perpetuará a tua flâmula.
 

 




 
 Edição de imagens;
Shirley Araújo


Texto: A nascitura do primogênito de Lígia Mulata




By © Alberto Araújo.
Niterói(RJ) - dezembro 2013.

 
ALBERTO ARAÚJO
Enviado por ALBERTO ARAÚJO em 19/12/2013
Reeditado em 19/12/2013
Código do texto: T4617534
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