O menino que não sonhava

Era um menino como todos os outros. Gostava de jogar bola, empinar papagaio, brincar de bola de gude. Talvez, o que o diferenciasse dos demais fosse seu jeito sedutor, sem malícia. Seduzia com naturalidade, sem se esforçar nem um pouco. Todos eram vítimas de sua sedução inocente, desde as menininhas, cujo coração brotava para os prazeres da vida, até os mais velhos, com longa experiência.

Do alto de seus doze anos bem vividos, seu olhar chamava a atenção porque ,por si só, já falava... Seus pais não resistiam aos seus apelos, os amigos não achavam graça nas brincadeiras sem ele, as garotas da rua e do colégio só tinham olhos para ele.

Um dia, ao chegar à escola, viu um grupo conversando animadamente. Reconheceu seus amigos e se aproximou para compartilhar aquela alegria.

O mais velho deles estava contando o sonho que tivera na noite anterior. A história mais se parecia um filme de aventuras, pensou até que tinha sido, na maior parte inventada. Mas, algo o incomodou naquele momento. Percebeu que nunca havia sonhado.

Naquele dia ficou quieto na escola. Todos estranharam, mas não quis revelar nada a ninguém. Chegou em casa e contou aos pais o que acontecera. A mãe aquietou seu coração. Certamente já havia sonhado, apenas não se lembrava dos sonhos.

Aquela explicação tranquilizou sua alma aflita durante algum tempo. Mas, desde aquele dia, toda vez que acordava, tentava se lembrar se tivera algum sonho. O ritual se repetiu durante dias, semanas, meses e nada. Realmente não sonhava, como todas as pessoas.

Dia após dia, aquilo incomodava o menino a tal ponto que ele não era mais o mesmo. Começou a se isolar de todos, queria ficar sozinho a maior parte do tempo.

À noite, começou a ter medo de dormir e não sonhar. Então, parou de dormir. Ficava vigiando o próprio sono para que ele não se aproximasse, o dia amanhecia e ele não adormecia!

O tempo foi passando, o menino não dormia, não comia, não conversava. Adoeceu! Seu corpo e sua alma estavam irremediavelmente doentes.

Por fim, numa manhã de domingo, sua alma e seu corpo se separaram para sempre. Seus olhos finalmente se fecharam.

Sem sonhos, só lhe restara a morte!

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Obrigada a todos pelas leituras e comentários, principalmente a quem, de alguma forma, acabou criando laços mais do que poéticos. Um Natal iluminado e 2014 de pura luz! Beijos!

Ane Rose
Enviado por Ane Rose em 09/12/2013
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