Um Conto de Natal
Um Conto de Natal
Os enfeites deste natal de 2013 estão muito bonitos neste shopping de Campinas.
Sentado em minha cadeira de rodas, fico admirando a decoração e me lembrando de outros natais...
Minha esposa e filho foram às compras e preferi esperar aqui na praça de alimentação.
-Arrependa-se irmão!
Nem tinha reparado, mas um homem de uns quarenta anos está do meu lado, de terno e uma bíblia na mão. Parece um pastor ou estudioso das Escrituras Sagradas. Além disto, percebo que ele, assim como eu, vê e sente energias de uma realidade espiritual.
Ele me pede para sentar-se numa cadeira na mesa em que estou e digo que sim.
Digo-lhe meu nome e ele diz chamar-se Davi, teólogo e pastor.
Ele olhando fixamente em meus olhos começa a dizer meus pecados segundo sua visão pastoral. Como numa manifestação mediúnica, que conheço muito bem, relata algo sobre minhas experiências no espiritismo e na umbanda. Relata também meu trabalho como Radiestesista e Terapeuta Holístico. Tudo isto, segundo ele, práticas demoníacas...
Num breve tempo, interiormente, lembro-me de fatos relacionados a estas vivências.
Nas seções mediúnicas fui dialogador, conversava com espíritos através de um médium. Lembro-me de algumas comunicações... Muitos não entendiam que tinham desencarnado! Alguns sofriam muito e queriam ajuda... Outros me contavam como era o lugar que estavam... Sinto-me bem com estas lembranças...
Caboclo Pena Dourada, amigo espiritual das linhas de Umbanda. Lembro-me de uma noite, há muitos anos, em que, com minha visão espiritual, vi aranhas e um emaranhado de teias em meu quarto. Sabe que fazemos também inimigos espirituais... Naquele momento de terror, orei para que DEUS enviasse ajuda e vi o FOGO consumir todo aquele cenário macabro. Senti a presença do Caboclo Pena Dourada, um Guerreiro de Cristo...
Começo a recordar da época que trabalhei como terapeuta holístico e de várias pessoas que pude aliviar dores, traumas... Usava o pêndulo de radiestesia para definir tratamentos naturais. Nesta época usava também cores e pedras nos tratamentos. Lembro de uma vez que uma aluna não se sentia bem e fiz uma energização nos chakras. Ela começou a chorar convulsivamente e depois se sentiu melhor... Boas lembranças...
Lembro-me também de meu trabalho como atendente no bar de minha família. Em muitas situações, fui balconista e “psicólogo”, ouvindo todo tipo de tristezas e desgraças que me relatavam ao tomar seus aperitivos. Fique com DEUS, pensava...
Para mim é difícil arrepender-me do que vivi e não considero erros...
Em minhas experiências religiosas também estudei filosofias orientais como o taoísmo, que tem uma filosofia muito bonita.
Fiz amigos também ao frequentar a igreja católica e também pontos de pregação e igrejas evangélicas...
Tudo o que busquei e tudo o que aprendo em todas as filosofias parecem convergir a um mesmo ponto...
Como que lendo meus pensamentos, Davi olha-me e diz apenas: - Arrependa-se!
Não consigo e nem quero arrepender-me de minhas experiências! Quem sabe arrependa-me da comida que não doei e das lágrimas de tristeza que produzi... Sei lá... Quem sabe eu seja uma ovelha perdida... Mas não me sinto assim...
Segundos que parecem séculos passam pesarosos...
Sinto então a proximidade de mais uma pessoa. Olho e vejo um homem bem velhinho varrendo o chão do meu lado. O interessante é que não é um funcionário da limpeza do shopping... Não tem uniforme padrão... Parece mais um andarilho com uma vassoura muito usada! Mas já vi este homem em algum lugar...
- Obrigado pela água! – ele diz olhando fixamente para mim. Agora me lembro de que me pediu um pouco de água para beber, há um tempo lá no bar que trabalho.
Sinto-me feliz por ter ajudado!
Ele sorri para mim e desaparece entre os enfeites natalinos.
Agradeço Davi pela tentativa da salvar minha alma, segundo sua filosofia, e ele também vai embora...
Apenas estou feliz por estar aqui com minha família...
FELIZ NATAL! HO! HO! HO!