Não existe fada do dente!

Minha respiração barulhenta me ninou passo a passo para o sonho dos desesperados.

Jogada em meu universo paralelo pude sentir e tocar em meu vazio. Foi minha língua que percorria o espaço limitado de minha boca que primeiro sentiu.

O grande buraco estava no topo de um de meus dentes, mas eu não podia ver e nem tocar de diferente forma. Eu sentia a preocupação e o desespero. E olhando para o reflexo de mim enchi minha boca de líquido azul. O segurei e antes de cuspir encarei meus olhos. Eles estavam cheios... cheios de lágrimas azuis. E elas desciam colorindo minha cara triste.

Cuspi! O azul se foi pelo ralo e meu dente que antes era um vazio presente agora era um enorme dente pendurado por duas finas veias vermelhas.

Cada vez mais desesperada, eu não podia mais ficar só, corri para os braços femininos e acolhedores. Me ajoelhei e abri a boca. Pedi que ela me visse, e que olhando me dissesse o que fazer.

Ela com olhos preocupados, que fingiam estar tranquilos me pediam para esperar pelo amanhecer.

Mas eu não conseguiria, não podia parar de pensar naquelas porcelanas e metais. Dentes artificiais que viriam para substituir o que era insubstituível!

E dentro de minha boca agora estava o sangue e um dente “semi solto” agitado e inquieto se embolava com minha língua e outros dentes presos. Podia imaginar a gosma vermelha e densa que se formava dentro de mim. Mas para minha surpresa o gosto ruim não parava por ai, assim do nada mais um dente soltava. Agora eram dois, dois dentes que se movimentavam e se chocavam entre eles preso por quatro pequeníssimos fios vermelhos. Eu uma única vez tentei puxa- lós para terminar com esse balé de sangue, dentes e gosma. Mas desisti! Meu desespero aumentou e mais um dente caiu. Ele acabava de se desprender de minha inchada e rosada gengiva! Mas pronto! Agora eram três e minha sensação era que isso seria tudo! Nada mais poderia cair, mas esse sentimento irracional ignorava meus outros 25 dentes ainda presos.

Eu agora estava sem fala, sem força. A única coisa que me restava era me segurar nos joelhos dela e implorar por um médico ou ambulância! Mas eu pedia sem dizer uma palavra. Não tinha mais a fala. A boca cheia não permitia mover a língua para elaborar nada racional. Apenas gemidos molhados e lágrimas... Isso era eu; Ajoelhada e desesperada.

Até que no som ruim de minha vida paralela tocava o sinal de que eu novamente estava atrasada. E o que era sangue foi virando água e os dentes estavam lá, cravados em minha gengiva. E até o que era pele virou tecido e espuma.

Eu estava agora acordada!

Desperta, mas ainda assustada. E embaixo do meu travesseiro não havia nada! Meus três dentes não valiam nenhuma moeda! Injusta fada do dente? Ou apenas inexistente?

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Enviado por IP em 26/11/2013
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