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  UM LINDO SONHO DE FUTEBOL

               Sr. Carlos não trabalhava mais porque havia labutado já muitos anos na mesma empresa. Nos fins de semana costumava jogar futebol com os colegas e mais alguns amigos e conhecidos. Tinha disposição que fazia inveja a qualquer guri metido a jogador de bola. Cada partida que participava, dificilmente voltava pra casa sem marcar pelo menos um gol. Se tivesse oportunidade seria um jogador profissional de mão cheia.
 
           Uma bela noite...  chuvas e trovões. Relâmpagos um seguido do outro. Carlinhos não conseguia dormir. Preocupado com o prejuízo que aquele temporal poderia causar principalmente nas lavouras de milho e trigo. Em sua mente via a bela paisagem dos trigais que já não seria tão bela, mas triste.  As finas hastes do trigo no chão.  A conseqüência seria os cachos apodrecidos. Com ele mesmo não teria muito com que se preocupar. Uma boa aposentadoria, as filhas bem casadas e o importante que a saúde estava muito bem. Mas  algum fenômeno da natureza... esse era o que o derrubava.
 
              - Venha deitar “veio”. Tu precisas descansar. Não vai ter que jogar amanhã lá em Rio das Pedras? – Reclamava a esposa que queria dormir.
 
          O homem voltou pra cama. Demorou para dormir, enquanto a companheira de tantos anos ressonava.  Enfim teve um sonho que considerou uma revelação dos céus. No dia seguinte na hora que *mateava com a mulher, passou a contar o que vira. Vez ou outra, sua voz ficava embargada com a emoção. Passou a falar:
              - Estava eu sentado na varanda olhando o horizonte. De repente surgiu no céu uma espécie de telão. Ali havia um jogo de idosos. Um dos jogadores era o próprio técnico. Quando acabava a partida, cumprimentava cada um dos companheiros de equipe. Depois iam para o treinamento, em que ele mesmo era o treinador. Todos agradeciam a ele pela saúde. Todos teriam morrido se não fosse a terapia do esporte. Fundaram até um clube daquela faixa etária. De repente eles se despediram e foram embora para sempre, mas com uma idade bem mais avançada...  Enfim apareceu uma frase em letras garrafais que dizia: “Esse homem é você”.
 
              Muito preocupado, Carlinhos pensou por dias, semanas, meses... como iria colocar em prática. Entendeu que era uma missão a ser cumprida. Teria que agir.
 
Dois anos se passaram. Carlos reuniu os homens da pequena cidade, que tinham mais ou menos a sua idade. Aqueles que ficavam ociosos jogando vísporas ou cartas debaixo de uma árvore porque não tinham o que fazer. A princípio conseguiu uma equipe de oito. Arranjou uma bola e foram para um campinho onde a piazada brincava no final da tarde. Ali foi o início de tudo.
 
              Com os vinte e dois jogadores idosos, fundaram o “Clube dos Sessentas mais...”. A cada tempo promoviam bailes em que a velharada com espírito jovem se divertiam pra valer. Participavam de vários torneios de futebol sendo vitoriosos na maioria deles. Um pequeno cômodo na sede do clube ficou pequeno para guardar as taças...

              Essa prática perdurou por três gerações. Mas com o tempo as pessoas vão esquecendo e depois disso, fica só mesmo a história.
 
(Christiano Nunes)
 
*Tomava mate. Chimarrão. – chimarreava. Costume da Região Sul do Brasil.