PE-DA-CI-NHOS
A volta da escola era também divertida: um, dois, três pulinhos no trilho do trem. Ziguezagueando entre pedras e ferros a pequena Maria brincava; um saltinho para cada vagão que imaginava estar vindo na locomotiva que se aproximava. Mas pedra e ferro traem; o sol do meio-dia gosta de embaraçar a vista das menininhas famintas. Com o pezinho preso no trilho de ferro, Maria gritava de dor e desespero, e de longe já ouvia cantar o trem cargueiro das doze horas. Chorava aos gritos, que eram cobertos pelos assobios da máquina velha e enferrujada, manuseada pelo impiedoso maquinista, que nem via a pequena.
- Socorro! Meu pezinho está preso, papai! – soluçava Maria.
Quando o trem saiu o túnel, Maria já não mais lutava para se soltar, apenas sentou-se no trilho, esmorecida e com o rostinho vermelho de tanto chorar, quando a sombra veloz e fria se aproximou, que deixou em pedaços os sonhos, o corpo e a blusinha de crochê da pobre menina Maria.