das mulheres
Quando isso acontecia
O sol de rachar. Nós, os meninos, na calçada olhando as meninas no jardim conversando, e como falavam! Não imaginava onde encontravam tantos assuntos, uma vez que a vida delas, era parecida com as nossas, basicamente jardim e escola. E nos finais de semana frequentavam a mesma matinê da boate da praça da feira
e meu irmão dizia: “essas meninas estão loucas pra dar ”. E emendava cheio de conhecimento: e sabe de quem elas estão falando? Da gente. Eu nem acreditava nem nada... não sabia. Por que elas falariam da gente, achava absurdo. veja o estado de importância que a gente se dava.
Ele sim, sabia das coisas. Era mais velhos uns dois anos. E isso lhe dava um ar de autoridade sobre a gente. E em dois anos, como depois eu vi, aprende-se muito sobre as coisas . Entretanto, mesmo com tanta sabedoria, ele também não arredava o pé do lugar que a gente estava... “não quero essas meninas, muito bobinhas, prefiro as mais velhas”. Justificava. E a gente acreditava. Só o tempo me mostrou que ele também tinha morria de medo das meninas.
Idade elas já tinham, corpo de moça, e fala cheia de melodia. O olhar, mais safadeza que mistério. Um certo Gilmar, que aparecia pouco no nosso grupo, chamava todas de vagabundas, eu não, agressivo demais, eram meninas, todas querendo viver. Gilmar sentia raiva por ser covarde e creio, que xingar as pobres donzelas lhe fazia sentir melhor...
...eu tinha vergonha de todas. Não escondia isso não. medo de conversar? Muito! Minha cabeça ficava uma massaroca. E por causa disso, parecia um burro nessas horas, de tanto querer falar coisas inteligente, só só saia bacaneira. O que eu poderia falar com essas meninas? Me torturava . Minha vó, que era a mulher mais velha da rua, e da qual eu não tinha medo, e sim, muito respeito, tanto que tudo que saia da boca dela tinha a força da verdade, com a cara cheia de ruga de tanto viver , falava com os braços emborcados na janela: é tudo rapariga, nenhuma presta. Ou então, quando estava esbaforida e cansada de fazer comida e limpar a casa: “Nessa idade e já parece puta !” e aqueles sentimentos me assavam por dentro. Como é ruim sentimento que a gente não entende. E naquela época pipocou um monte de dentro da barriga, como se a vida fosse só pedregulho...e piorava ainda mais quando tudo ficava nebuloso e difícil
Havia sílvia, Catarina, sheila, carlinha, Nereida, Clara, Carmem. Ambrosina, teresa, Marlene, Janeta e Marina, sem falar de umas que nem sempre aparecia, mas era da patota . Eu sabia o nome de todas, e cada uma, do seu jeito, tinha sua graça, umas morenas, outras claras, mas todas procurando um cacho. “quem namorar primeiro vai conseguir um monte de inimigas.” Rubão que falava pouco, mas sabia ler as coisas como ninguém. Dava pra ver...não descansavam. Queriam mesmo desabrochar pras coisas proibidas. E eu, com medo, era recriminado pelo meu irmão: “larga de ser mole, vou contar pro meu pai que você tem medo das meninas...” não queria de forma nenhuma que meu pai pensasse isso da minha pessoa. Que eu tinha medo, eu tinha, não dava pra negar. já que fingir exige uma dose de picaretagem e naquelas condições de inguidade nem sequer sabia que se podia mentir sobre quem se era.
- continua -