O Eterno Talvez
 
Houve uma vez, um pobre homem, dono de um pequeno sítio, cujo único bem era o seu cavalo. O cavalo era tudo para ele. Servia como transporte quando ele precisava ir á cidade e era usado como força motriz para puxar o arado quando ele precisava lavrar a terra. E do seu esterco ele fazia adubo para sua horta e carvão para o seu fogão.
Um dia, ele acordou e viu que o cavalo havia desaparecido. O homem ficou muito aborrecido, mas logo se conformou. Os seus vizinhos, porém, não o deixavam esquecer-se da sua desgraça.
– Que azar o seu – disseram eles. – Esse cavalo era a sua única riqueza. Que vai fazer agora? –, perguntaram eles.
– Nada – respondeu o sitiante.
Passado algum tempo, o cavalo voltou. Junto com ele trouxe uma enorme manada de cavalos selvagens, dos quais ele havia se tornado o líder. O sitiante logo cortou árvores, comprou arame e fez um grande curral para abrigar a manada. Da noite para o dia ele ficou rico, como dono de uma enorme manada de cavalos. Seus vizinhos, invejosos da sua boa sorte, vieram felicitá-lo.
– Parabéns – disseram eles. – Você é um homem de sorte. Tinha só um cavalo, agora é dono de uma enorme manada.
– Talvez – respondeu o sitiante.
Alguns dias depois, o seu único filho, um rapaz de vinte anos, saiu para dar uma cavalgada com aquele mesmo cavalo que havia trazido a manada. Mas durante o tempo em que ele vivera com os cavalos selvagens, ele tinha ficado meio arisco também e acabou derrubando o garoto. Na queda o rapaz quebrou a perna.
– Que azar o seu – disseram os vizinhos. –Se esse cavalo não tivesse voltado, o seu filho não teria quebrado a perna – disseram os invejosos vizinhos.
– É. Pode ser – foi a lacônica resposta do sitiante.
Uma semana depois o país entrou em guerra. O governo convocou todos os jovens em condições de lutar. O filho do sitiante, com a perna quebrada, foi poupado.
– O senhor é um homem de sorte – disseram os vizinhos. – Nossos filhos foram para a guerra. O seu, por estar com a perna quebrada, foi poupado. Bendito seja aquele cavalo – disseram eles.
– Talvez – respondeu o sitiante.
 
Moral da história. Não existe nem bem nem mal no mundo. Apenas situações que são favoráveis ou desfavoráveis no momento em que as vivemos. Isso acontece porque o mundo é redondo. Toda volta que termina começa em outra. O mundo leva e traz as coisas. Em cada volta que ele dá nós estamos sujeitos a viver situações diferentes. Só o espírito do homem, por causa do seu apego, é que não se conforma com as mudanças. E por isso sofre. O mundo é redondo, mas talvez o espírito humano seja quadrado.