O CHEIRO DA LILÍ

Após oito anos, cinco meses e uma dezena de dias, passei pela frente da casa onde ainda reside minha ex-esposa.

No canto esquerdo do portão, vi a casinha da nossa cadelinha Lilí que compramos quando completamos três anos de casados e cientes de que a amada não poderia gerar filhos. Lilí morreu dois anos depois, não sei por qual motivo, já que não estávamos mais juntos.

Ao ver a casinha, da Lilí, uma lembrança veio-me a mente. A ex queria uma casinha que oferecesse segurança a nossa nova companhia - com cores vivas, prática e apresentável.

Ao perceber que o vendedor já estava quase a mandando que procurasse outra loja, resolvi intervir. Sugeri que comprasse a casinha da minha simpatia, bonita e leve - portanto, de fácil remoção. Ainda que a contra gosto dela, fechamos negócio.

Mas Lilí relutava em adentrar ao seu lar e preferia o aconchego de nossa cama de casal. A solução, por sugestão de não lembro quem, foi resolvida de maneira simples, mas com alguns custos. Colocamos dentro de sua casinha alguns lençóis e cobertores que não eram de tanto uso, mas que acabaram resultando em nova despesa acompanha de algumas discussões.

Mas deu certo. Disseram que o cheiro - não sei de quem, foi o fator da aceitação de Lilí pela sua morada.

Dezesseis meses depois me vi desempregado. E sem lar.

Foi-me ofertado a casinha da Lilí, que, por sua vez, passou a ocupar o meu lugar na então ‘nossa’ cama.

Uma casinha com segurança, bonita, fácil para mudar de lugar e com alguns lençóis e cobertores de boa qualidade. E com cheiro. Da Lilí.