O DESTINO DE UM GALO
Vejam o destino de um galo: Há algum tempo resolvi criar galinhas, optei por comprar pintinhos e cria-los. Dessa remessa surgiram dois galos e cinco galinhas; não é desses dois galos que estou me referindo, mas eles merecem algumas considerações nesse conto. Os dois cresceram em iguais proporções e sempre que um tentava abaixar uma galinha o outro não deixava, poderiam fazer diferente: “Em quanto meu irmão pega uma galinha, eu pego outra”. As galinhas já revoltadas com a falta de galo por causa da intriga resolveram pular a cerca e paquerar um garnisé que morava em um cercado vizinho. Meu pai, conhecedor das aspirações galináceas recomendou-me matar um deles para acabar com a confusão. Lá foi o mais gordo para um velório dominical com direito a vinho e tudo. A paz finalmente chegou no galinheiro e nesse ambiente harmonioso as galinhas bem namoradas chocaram lá seus ovos em que nasceram alguns franguinhos, todos imolados exceto o franguinho que viria a ser o galo em questão. Cresceu ele desapercebido do galo chefe e lá pela sua puberdade conseguia baixar algumas galinhas sem ser importunado pelo dono do galinheiro. Geralmente um galo não se importa com frangos. Passados alguns dias eis que surge uma outra voz no galinheiro. A maior ofensa para um galo é ouvir o canto do outro em seu harém. Aqui começa a história do frango que virara galo há pouco: Minha mãe pediu-me o galo chefe para cruzar com suas galinhas já que lá só havia um garnisé e ela não queria seus filhotes, emprestei-o pensando em dar oportunidade para o frango-galo namorar, tendo em vista que a vida de um galo é muito curta e a intensidade nos namoros é que compensa a vida breve e o trágico e inevitável fim. A minha ajuda não foi das melhores: Com a chegada do galo chefe no quintal do garnisé, este metido a galo, levou uma surra daquelas e tivemos que intervir removendo-o para o galinheiro onde o frango-galo já se achava o senhor das galinhas. Ao ver o garnisé no seu território começou uma implacável perseguição ao pequeno até que novamente intervimos , nesse caso levando o frango-bravo lá para junto do galo-chefe outra vez. Não foi para a panela graças à minha benevolência que não quis mata-lo por pena. Quem se deu bem foi o garnisé que mesmo apanhando ficou sozinho com um maior número de galinhas. Às vezes penso que estou muito benevolente com aquele frango-galo, mas só em imaginar ele assado sem penas me dá pena do coitado.
Geraldo Altoé