Duda

Todos que escrevem sabem: inventamos muito. Situações, fatos, pessoas.

Inventamos? Pode parecer que sim, mas é difícil alguma coisa vir do nada. Melhor, não é difícil, é impossível. Não só para escrever, mas para todos os ramos da arte. A criação segue um processo, e nunca se pode imaginar o resultado. Mas não parte do imaginário puro. Nunca parte.

Assim é que a mulher que Yuri conheceu e logo se apaixonou parecia ter surgido do nada, sem pai nem mãe, sem uma história anterior que convencesse. Tudo parecia ilusório. Mas não. Ela estava — estava? — em todas as partes, no copo, no gosto do café acabado de fazer, no seu pensamento... Ora, tinha existência, portanto.

Escrevia para ele, textos curtos, incisivos e muitas vezes contundentes. “Você estragou nossas vidas”, quando se referia à união que não se realizou. De nada adiantava querer negar; era o que ela pensava, dizia e estava convencida. Negar como? Aparecia como vinda do nada, linda, meiga, delicada e maravilhosamente entregue a um amor que Yuri nunca entendeu. É de dar pena dele. Foi burro, uma besta, em nome de sabe-se lá o quê.

O que mais queria era unir-se em definitivo com o amado. Acontece que este não acreditava que ela existisse, era sonho, ou talvez até mesmo delírio. Estava passando por momentos de insanidade, criando fantasmas? Mas Duda apareceu, como por encanto de história de fadas. Sentado num banco, olhando o mar, sentindo o horizonte, ouviu a voz.

— Yuri?

— Duda?

Foi o mais ardente beijo, o mais gostoso abraço, os corações batiam forte, estavam colados, os olhos não se separavam um do outro, olhar que devassa a alma, fala, grita, berra e sente. Duda era a mulher mais bonita que Yuri já havia posto os olhos, em qualquer hipótese. A mais bonita, a mais doce, a mais encantadora, a mais mulher.

Num repente, sumiu.

Até hoje Yuri não sabe mais dela...