O pecado repousa sobre a pia
Quando você vem assim, com essa cor vermelha e toda quente, penso que nada no mundo pode ser melhor. Te pego com as mãos e vou, lentamente, rodando-as ao seu redor. Sinto ainda tudo borbulhar dentro de você, como se carregasse o mais vital dos líquidos. Minha boca, sedenta, logo lhe morde as bordas e sorve com prazer o gosto que nelas contêm. Por instantes, olho em volta e vejo, com orgulho, que somente eu posso desfrutar desses momentos. E que momentos.
Nada preciso dizer, e todos os meus movimentos são compreendidos.
Quando chego cansado, seja lá onde eu tenha ido, você sempre está a minha espera, com a boca escancarada, vermelha, quase sorrindo pra mim. Fico rodeando, dizendo que não irei me entregar a tal prazer quando você bem entender, mas, fraco e com vontade, vou ao seu encontro. Ao te agarrar, tudo, tudo se transforma. Não importa quantos problemas eu tenha; as dívidas, decepções, ao primeiro toque eu deixo tudo e só olho pra você. Vou com você pra todos os cômodos da casa, no sofá, na varanda, no tapete, na cama. Em alguns momentos penso, com mortal ciúme, se não existem outros que também fazem isso contigo. Uma fúria tremenda me invade e fico com vontade de lhe trancafiar, para sempre, como o marido no conto de Poe. Mas vejo que seria injusto. Sendo tão linda, e tão cobiçada, o que tenho a fazer é manter a tranquilidade e saber que sempre, esteja você em qualquer lugar, haverá alguém louco para lhe colocar as mãos.
Sei que algumas vezes fico sem aparecer, e nem mesmo lhe dou satisfações, mas saiba que, sempre, você está em meus pensamentos. Eu preciso dizer que em alguns momentos eu procuro por outras e que chego mesmo a roçar-lhes os lábios. Sei que não é correto e sei que talvez eu seja punido. Ainda sim, eu sempre espero poder chegar em casa e ver você sorrindo, me esperando tranquilamente sobre a pia, minha adorável caneca vermelha de café. Eu te amo.
*30/04/2011