O Garoto

Ninguém sabia o que se passava pela cabeça dele, nem a mãe que fazia o seu leite todas as noites antes de dormir, nem o pai que abraçava todo final de tarde depois do trabalho. E enquanto o pai saía para trabalhar e a mãe se ocupava na cozinha, o garotinho corria pela casa em busca de uma nova aventura e ninguém imaginava o que se passava em sua mente, sem saber que enquanto ele corria, estava livre em seu próprio mundo, cercado pela magia de seus seis anos de idade.

No domingo, a rotina muda, o domingo é o dia preferido do menino, a mãe faz o almoço mais gostoso, o pai lê jornal sentado na cadeira da sala, as tias vem visitar com doces e beijos estalados, e no meio de toda aquela doce rotina de um domingo em família, cada um deles dispensa um pouco de carinho ao garoto, seja afagando seus cabelos negros, seja com beijinhos na testa.

O coro de "como ele cresceu" é um sinal, o pai levanta o jornal para que fique como uma barreira entre ele e o que as mulheres vão conversar a partir daquele momento, a mãe sorri se aproximando das irmãs e cunhadas, enquanto o garoto sai despercebido sabendo que a partir daquele momento, ele vai ser o tema discutido. Como ele é distraído, como ele está sempre inquieto, como ele parece sempre perdido no meio da lua, como seus olhos estão sempre olhando para lugar nenhum, é o que falam quase sempre enquanto o garoto foge dali sorrindo, apenas o pai nota sua ausência e dá um rápido sorriso já sabendo para onde o filho vai.

Na sala, a família volta a conversar sobre o que se passa na cabeça do garotinho, enquanto não muito longe dali, ele pega uma velha toalha e amarra no pescoço, seus olhos distraídos focalizam o horizonte cheio de surpresas que o aguardam e o menino voa em direção ao sol poente. Não há paredes, não há limites, apenas um super herói e sua capa.