A Menina e o Zé : Capítulo 3

Passamos algum tempo sem nos vermos; era sempre assim, não por que queríamos, mas por que não frequentávamos os mesmos locais, festas, enfim. Um belo dia, soube que ela havia feito alguns comentários bem positivos sobre mim, foi então que resolvi pela primeira vez ligar para ela, simplesmente para conversar.

Então, em uma noite qualquer, liguei para ela. Por algum motivo eu não esperava que ela me atendesse. Não sei bem, mas sempre achei que qualquer iniciativa que eu tivesse em relação a uma outra pessoa, seria inconveniente. De repente, ouvi sua voz...

-Oi!- Ela disse.

-Olá. Boa noite! - Respondi, com a voz claramente tremula.

-Boa noite! E ai, tudo bom com você

-Tudo bem sim. É...você sabe com quem está falando?

-Claro que sei! - Ela deu uma risada linda.- Eu tenho o seu telefone menino.

-Ah sim. É que eu não sabia. Não esperava que você tivesse o meu número.

-Ora, e por que não? - Perguntou ela.

-Sei lá. Esquece!- Eu disse, meio sem jeito.- Bom, então, fiz mau em te ligar? você está ocupada? Eu posso ligar outra hora...

-Calma garoto. - Ela deu aquela risada de novo.- Tá tudo bem, não estou ocupada nem nada, fica tranquilo.

-Que bom então...

-...Tá bom. então, Você queria falar comigo?

-Oquê? Quem te falou isso?

-Ninguém! É que você me ligou né, imaginei que...

-Não é nada de mais. Eu só,só... É que me deu vontade de conversar com você.

Ela ficou muda. Percebi, então, que ela não esperava receber o meu telefonema e nem ouvir aquilo. Muito menos de mim, eu acho. Depois de um breve silêncio, ela voltou a falar.

-Tudo bem, eu realmente não esperava isso. Podemos conversar sobre o que?

-Sei lá! Na verdade isso era só uma desculpa pra te ligar.

-Espertinho você não?

-Só o suficiente.

Ela dava as risadas que eu tanto gostava de ouvir. E foi assim a noite toda, isso mesmo, pra quem não tinha o que conversar, nosso papo entrou pela noite.

-...Tá legal, fazia tempo que eu não passava tanto tempo no telefone conversando com uma só pessoa sabia?- Ela disse, em tom animado.

-Eu também. Aliás, eu raramente ligo para as pessoas.

-Mas ligou pra mim.

-Bom, você é diferente...no bom sentido,é claro!

-Espero que sim! - E nós dois caímos na risada.

-Então, posso te ligar amanhã de novo? Se não tiver problema é claro. Não quero atrapalhar...

-Vou estar esperando. Boa noite e, até amanhã!

-Boa noite pra você também... Até.

Aquele ritual se repetiu por várias noites seguidas. Quando eu não ligava, ela o fazia. Eu estava me sentindo estranhamente feliz. Algo assim nunca tinha acontecido comigo antes. Era, acima de tudo, estranho. Depois de alguns meses, ela me ligava sempre que estava sozinha em casa ou em algum lugar chato que seus pais à obrigavam a ir. E eu,lhe fazia companhia a noite toda, sempre à distancia. Cansei de ser acordado por ela durante a noite para conversar, pois estava em uma festa de família chata e não podia ir embora. Ela sempre perguntava, quando me ligava de madrugada, " Te acordei?". E eu, me levantando da cama respondia, "É claro que não! Eu estou vendo tv!", falava enquanto ligava a tv. Mas nunca me importei, e nunca me importaria.

Enfim, uma bela noite, eu lhe convidei para ir me ver tocar no festival de rock que iria ocorrer na cidade em breve. Ela disse que iria sim, então, vi ali o melhor momento para tentar me aproximar mais um pouco dela. Eu queria ficar com ela, nem que fosse só por uma noite, nem que fosse só um beijo. E eu iria tentar de tudo. Não poderia deixar aquela chance escapar de maneira nenhuma.