Defeitos 1º

Todo mundo age por impulso? Inúmeras vezes me pergunto isso, e nunca chego à conclusão. O amor, a sabedoria, a ira, o que são, forças que nos impelem? Se for isso, então a resposta é sim, o ser humano age por impulso.

Na hora nem se da conta; diz o poema, tece o comentário, desfere o golpe, impulsiona coração, mente e corpo. Um ponto interessante é que o impulso tem uma causa e, quando tal causa não tem uma resposta esperada, logo um sentimento de frustração aparece. O homem age pensando ter todas as respostas na cabeça, sem duvidas ou objeções, apenas a certeza de que existe somente um caminho, o certo, e que é sempre este caminho que ele percorre.

O ser humano tem o péssimo costume de colocar muitas, todas as certezas na mesa, de uma vez. Não conta com o empecilho, o contratempo, a mudança de planos, nada disso. E são nessas situações que ele se perde, se revolta, pois esquece que há coisas que vão alem de suas vontades, mesmo que sejam as melhores intenções.

Daí o homem pega toda a raiva do mundo e tece um casaco para si. Não tira por nada. Não importa que a verdade, a desculpa, a antiga vontade apareça, ele permanece estático, firme na sua batalha contra alguém, o culpado por sua vestimenta.

As tramas desse casaco são tecidas, muitas vezes, com ódio, e não há tesoura capaz de cortá-las. À medida que o tempo vai passando, o casaco vai ficando cada vez mais justo ao corpo, até que seja impossível tirá-lo. E depois, bem depois, quando muitos partirem, outros chegarem, o sol e a lua se desencontrarem tantas e tantas vezes, os casais se amarem e se separarem, depois de tudo isso... bem, daí será tarde. Todo o corpo já terá absorvido o casaco. As mãos duras, incapazes de dar um afago; os braços rijos, impossibilitados do mínimo abraço; as pernas petrificadas, como quem não quer, e nem pode, acompanhar ninguém e a face, ah, triste e dura face.

Os lábios travados numa mordida de raiva. Os olhos baços, caídos, quase trincados, a testa toda marcada, como terra seca, lavrada pelo agricultor. No entanto, apesar disso tudo, às vezes temos mais de uma chance e é nessas horas que as costuras se afrouxam, os botões se abrem e o homem pode escolher entre o sufoco de tal casaco ou a liberdade do peito nu, imaculado, livre.

Alguns se recolhem, devido ao frio que sentem, outros saem correndo sem medo de nada...quem entende a força que impulsiona o homem?

*11/06/2011