O Canto

Um passo em direção ao infinito; As cores misturam-se num gradiente suave. Por essa via caminho. Cantando baixo, com braços abertos, como um equilibrista numa corda bamba. Inspiro-me. Vou ao jardim perdido; e sigo cantando.

Olho o céu e sorrio; descubro o jardim. Lá corro com o passado, presente e futuro. Corro também com a criança e brinco com esta. Faz bem observar a essência infantil e inocente que todos nós carregamos um dia.

Cantando, chego as saudosas montanhas que, em seus vales, contém águas e ar puros, a mistura de mim. Respiro. Uma ave vejo e circula onde estou. Sabes que contigo quero voar a todas as terras daquele mundo. Com ela, canto, e canto alto. E a música ecoa sobre o vale, sobre o espaço, sobre mim.

Alcanço junto o pássaro o universo. Vejo-o no auge do seu breu, mas abrigando silenciosamente suas imponentes galáxias e estrelas. Dali, se vê que o poder é apenas uma instituição, uma convenção humana; ele não existe, tudo contém sua majestade particular, inclusive eu, amante das pequenas coisas do dia-a-dia. Não canto agora, não há oxigênio no grande espaço que abriga este mundo. Apenas observo, deixando que as luzes expressem por si a beleza deste desconhecido que nos acolhe.

Volto ao mundo. Pouso na lentamente na terra macia. Caminho, enquanto balbucio o início de qualquer canção. O dia está acabando. De súbito, vejo o que me faz feliz: tudo e todos que amo, e, a frente, tu, alegre, estendendo sua mão direita, convidando-me a uma nova viagem. Tocas seu violino enquanto eu sigo, junto a ti, cantando.

Volto ao real. Naquele banco de concreto ao lado de uma grande árvore observo o sol poente. Nos laranjas do fim do dia me adentro e desapareço. E sigo cantando.