* EMPATIA NOTURNA ¹
Podia ouvir o chamado das sombras, um sussurro emitido pela noite, que ecoava em seus ouvidos, despertando seus sentidos, sua intuição, seu lado mais sedutor e provocante. Era um convite aos prazeres da carne, que assombrava sua alma, coração e corpo, um convite perante a vida tediosa e medíocre, uma vida ordinária e comum, em que sentia ser diferente, de tantas outras mulheres, não conseguia conceber viver sob padrões alienantes.
Em seu olhar podia ser encontrada a intensidade e profundidade de uma alma guerreira, ancestral, talvez houvesse sido sacrificada como bruxa em um tempo antigo, poderia ser uma amazona que enfrentara toda sorte de infortúnios, mas seguia vitoriosa, com o sangue fluindo em seu corpo. Talvez houvesse sido uma criatura da noite, aprisionada em um mundo, que não compreendia seu olhar, seus desejos, sua voraz necessidade de confrontar e enfrentar aquilo que acreditara ser limite para sua alma e coração. E mesmo seria um anjo renegado, que havia desperto para o desejo da carne, do toque, da caricia, do contato mais intimo dos corpos, unidos por sentidos e sensações, fosse um anjo renegado, que condenado ao exilio por seus desejos profanos, por sua ânsia lascíva e ardente.
Podia ouvir aquele chamado sombrio, como um cortejo, assédio aos seus instintos e sentidos, que era mal interpretado como loucura ou devassidão, sentia compelida e provocada, e assim sua alma devassa e sedutora, era atraída, pelo brilho, pela energia que parecia piscar diante de seus olhos, com a promessa de experiências únicas, com a promessa de que iria compreender e satisfazer toda sua ânsia libertina e profana. Era na noite, que seu olhar podia ver com nitidez aquilo que o dia havia ocultado, era irônico sentir toda proximidade com a escuridão, pelo qual sentia atração, e que atraia para junto dela, como uma simetria entre dois poderes distintos, o silêncio noturno, fazia sua mente despertar, seus sentidos ficarem a flor da pele, exalando aquele aroma quente. Na noite, compreendia que em meio aos ruídos do dia, o som e melodia da noite, podia ser sentida, em um turbilhão de emoções e sentimentos, sensações únicas, que fazia sua mente girar, em uma devastadora empatia, na alma e coração. A alma e coração inquietas e loucas, na busca por respostas, por satisfazer sua ânsia por respostas, era capaz de sentir que o dia mente a cor da noite, e que ao ouvir aquele chamado, aquela melodia noturna, seu corpo reagia, interagia com tudo aquilo que vinha em seu encontro, que sentia assombrar seus pensamentos, provocar seus desejos, encontrar em sua alma e coração, uma cumplicidade e intimidade, que desejava compreender, e que nunca poderia explicar, porque sentia ser filha, amante e consorte dos mistérios e segredos da noite.
• Damien Lockheart