PRODUÇÃO ECONÔMICA
Ela vem e passa por Fábio, sentado ao balcão do bar do hotel. Ele havia presenciado aquela cena no dia anterior. Como daquela vez, ela vai ao toilette, retornando pouco depois e senta-se na penúltima mesa, ao canto. Na cena que se repetia ele lembra-se do que ela havia pedido e se antecipa ao garçom. Este mistura rapidamente uma dose de gim com uma décima parte de vermute seco em uma coqueteleira, despeja na taça, espeta uma azeitona com um palito e a mergulha na mistura anterior. Pouco depois ele vê o garçom aproximar-se dela e, indicando com o olhar em sua direção, serve-a com do dry Martini.
Ela fica um pouco encabulada, mas aceita e agradece, com um sorriso tímido, um pouco forçado talvez. Um sinal que ele entende como um sinal verde para aproximar-se e tentar conhecê-la melhor.
Laura, que é morena, talvez não tivesse uma beleza de miss, no entanto era bonita para os padrões atuais; talvez o nariz um pouco achatado estragasse um pouco harmonia facial, mas o corpo estava acima da média das mulheres na casa dos trinta anos, e que ainda não havia sido apresentado à lei da gravidade.
Após alguns minutos se conhecendo, e mais alguns drinques, conversavam como se fossem amigos de longa data. Laura tinha um carisma enorme, e cativava facilmente as pessoas. Fábio fica sabendo que ela era de uma cidade, duzentos quilômetros ao norte, e que estava se separando do marido, com o qual havia sofrido por muito tempo.
- Você está sem a aliança, mas dá pra perceber as marcas dela...
- Tirei há pouco. Mas ainda não posso me separar totalmente. Estamos brigados e já consultei meu advogado, que me aconselhou a esperar mais alguns dias, para me garantir uma pensão melhor... Não sei explicar direito o porquê. Parece-me que ele vai fechar um bom negócio e ampliar o patrimônio. Vou fazer como ele me pede.
- Bem, talvez seja a melhor opção mesmo – concorda Fábio, sem muita convicção.
- Bom mesmo está sendo conversar com você e desanuviar um pouco de tantos problemas.
Fábio e Laura conversam animadamente por mais um bom tempo.
Ele a leva até a porta do apartamento no hotel, mas ela recusa-se a deixá-lo entrar.
- ... Ainda não. Melhor irmos com calma. Não quero por tudo a perder no divórcio.
Fábio a surpreende com um beijo forçado. Laura entra, um pouco assustada, dizendo:
- Amanhã a gente se fala!
Tranca a porta atrás de si. Fábio sorri. Estava encantado com a pureza e delicadeza daquela mulher. Finalmente havia encontrado a pessoa certa com quem dividir sua vida.
Por três dias os encontros se repetem, naquele jogo de vai-não-vai, que nem os adolescentes jogam mais. Fábio, com paciência, ia contornando. Sabia esperar o momento certo. Era um cavalheiro, bem educado, rico. Conhecia as artimanhas da vida, suas ciladas, histórias escabrosas, histórias comoventes. Sabia que pra cada situação uma atitude diferente deveria ser tomada. Sabia esperar e saborear suas conquistas, mas não via a hora de ter aquela mulher em seus braços.
No quarto dia haviam combinado um jantar fora do hotel. Fábio já havia pensado em tudo, passo a passo. Naquela noite a levaria a um motel luxuoso, com tudo que tinham direito.
Ao aproximar-se do quarto de Laura, vê um senhor de terno e pasta na mão sair, virar-se e continuar conversando. Laura o vê e se apressa em apresentá-los. Era Dr Agenor, o advogado que cuidaria do divórcio, e, também havia se hospedado no hotel, logo no andar de baixo.
O advogado logo se despede, deixando-os a sós.
- Vamos? – pergunta Fábio, um pouco ansioso.
- Ahnn... Me arrumei toda pra essa noite. Sei que esperava sairmos pra jantar, mas se você não se importar, a gente poderia pedir algo e ficar por aqui mesmo – diz acenando para o seu quarto.
- Pra mim está ótimo – responde surpreso e quase que inaudível.
Mal fecham a porta, ele a agarra pela cintura e a puxa para si, beijando com força, como quem busca o ar pra respirar, numa necessidade vital daquele corpo, numa fome insaciável, deixando vir à tona todos os seus desejos.
Ainda longe da cama, roupas e lingeries atiradas ao longe. Finalmente ele pode vislumbrar a beleza daquele corpo. Era perfeito! Seios bem torneados e firmes, ao alto, pernas bem delineadas... Ele a beija novamente e a vira de repente, podendo admirar aquela bunda empinada. Ela se apoia com as duas mãos na parede. Ele morde a orelha. Com a mão esquerda segura firme um dos seios. Com a outra mão entre as pernas, a puxa contra seu corpo rijo, ao mesmo tempo em que a pressiona contra a parede.
Foi uma noite maravilhosa para os dois. Atrapalhada, talvez, no dia seguinte, logo pela manhã, pelo advogado que viera pedir a Laura para assinar uns papeis, acompanhado de desculpas por não o ter feito na noite anterior.
Nos três dias seguintes o novo casal procura aproveitar o máximo de tempo juntos. Passeios turísticos, jantares, e, sempre que possível, a interrupção do clima pelo Dr Agenor por um motivo banal.
Na última noite, Dr Agenor veio interromper novamente:
- Dona Laura, consegui um adiantamento de dinheiro com seu marido. Ele deu um cheque que depositarei em sua conta amanhã. Logo o dinheiro estará liberado. Pra ser sincero, eu também estou precisando, inclusive pra pagar o hotel.
- Eu também preciso. Já me ligaram da recepção perguntando sobre a estadia.
Fábio, que ouvia a conversa, interrompe:
- Sabe muito bem que não precisa pagar, meu amor. Eu posso fazer isso pra você.
- Nem pensar – se adianta Dr Agenor – Se isso chega ao conhecimento da outra parte pode estragar todo o processo. Aliás, vocês poderiam evitar encontros tão frequentes!
- Não seja chato, Agenor – diz Fábio – Vamos tomar cuidado. Em quanto tempo o dinheiro estará liberado na conta dela?
- Hoje é sexta-feira... Somente na segunda.
- Eu resolvo isso agora e depois você me repõe esse valor.
Fábio tira o fone do gancho e interfona para a recepção. Pouco depois.
- Pronto. Despesas de Laura pagas por Dr Agenor, sem suspeitas. Eu pago as contas do seu advogado, por enquanto. Na segunda ele acerta comigo.
Mal o Dr Agenor sai, Laura salta sobre Fábio, entrelaçando-o com suas longas e bem torneadas pernas.
No dia seguinte, bem cedo, Laura olha para Fábio ainda dormindo. Relê o bilhete que acabara de escrever:
“Querido Fábio
Me perdoe pelo que estou fazendo, mas estou confusa. Não sei se o que estou fazendo é o certo. Talvez esteja me precipitando em relação a tudo. Apesar das brigas, meu marido me ama. Preciso repensar. Dar mais uma chance a ele. Há coisas que você não sabe, mas devo isso a ele.
Quem sabe numa outra situação, eu e você pudéssemos ter dado certo.
Foram dias maravilhosos, esses que passamos juntos. Não tenha mágoas de mim. Levarei você comigo, aqui dentro. Sempre.
Adeus, querido.
Laura.
Ela coloca o bilhete sobre o passador, bem à vista e sai.
No saguão do hotel o Dr Agenor a aguardava ansioso. Ela vai até a recepcionista.
- Obrigado, amiga. Sem suas informações não teríamos conseguido.
- Contem sempre comigo – responde.
- Tá, mas ninguém pode saber que vocês se conhecem fora daqui – adianta-se Agenor – Vamos logo!
Eles saem. Podiam pegar um ônibus circular até a zona norte onde moravam, mas aquele momento merecia um gasto extra. Decidem não pegar o taxi na frente do hotel, pra não deixarem pistas. Enquanto caminham conversam sobre os últimos acontecimentos.
- E então? Acha que desta vez conseguiu?
- Acredito que sim. Sinto que desta vez estou grávida. Da última vez não deu certo, talvez pela ansiedade. Mas agora, estou certa que conseguimos.
- Acredite, Márcia, essa foi a melhor opção que tivemos. Uma clínica está muito cara. Não conseguiríamos. Teríamos que economizar cinco anos, e olhe lá, hein! Adotar uma criança você não queria. Então, melhor assim.
- Fiz tudo por “nosso bebê”, você sabe. E por ele, faria tudo de novo.
“Claro que faria!” – pensa.
Ele tira as alianças do bolso e as colocam nos dedos. Abraçam-se contentes.
Leandro acena para um taxi que se aproxima.
Walter Peixoto
04/10/2013