Castelos de Areia

Jorge era maluco.

Ou, pelo menos, era rotulado como tal.

Jorge era maluco: não tinha casa, vivia na beira da praia com um cachorro (Cuíca, um vira-lata) como companheiro.

Ele passava o dia fazendo castelos de areias. Fazia exatamente dois e, quando terminava, ia recitar ideias estranhas:

- Vamos amar o próximo.

- Sejamos gentis com todos.

- Contentemos com o necessário.

- Vamos preservar o mundo.

Jorge era insano.

Ele comia alguns peixes pescado ou alguns alimentos cedidos por transeuntes passageiros.

Ninguém jamais soube de onde ele veio. Um dia, simplesmente apareceu construindo fortalezas para as crianças admirarem e estórias de boa moral.

Que louco era o Jorge!

Nunca quis dinheiro por suas esculturas, recusava entrevistas - mas permitiu que filmassem a sua obra. Poderia ser famoso.

Morreu como indigente. Teve uma pneumonia aos 30 e poucos e foi encontrado boiando no meio do mar. Só Cuíca lamentou.

Poderia ter tido conforto. Optou a virtude.

Jorge era louco.