ECO...

No tempo em que os deuses reinavam sobre a Terra, as deusas eram suas mulheres. As ninfas, suas diversões preferidas. Naqueles dias, entre todas as ninfas das montanhas, nenhuma era tão encantadora quanto Eco...
Ela só tinha um defeito: falava demais. Tagarelava o dia inteiro. Qualquer que fosse o tema da conversa, era sempre ela quem dava a última palavra...
Um dia, Zeus, Rei do Universo, estava prevaricando, desfrutando os favores das ninfas quando, inesperadamente, apareceu sua mulher: Hera, Rainha do Olimpo. Todas as ninfas se esconderam. Rapidamente tentaram fugir. Menos Eco...
Para distrair a atenção da deusa enquanto Zeus tratava de se esconder, Eco começou a falar pelos cotovelos. Sem parar. Falou tanto e de tantas coisas, em tão pouco tempo, que conseguiu confundir a deusa, dando tempo para que as ninfas também se escondessem. Quando a enciumada Hera se deu conta daquela farsa, ficou furiosa com a audácia da ninfa...
A esposa de Zeus chamou Eco e a amaldiçoou: “Nunca mais você vai trapacear. Esta língua (tão esperta) que você possui, queridinha, vai perder o poder. De agora em diante você não vai conseguir iniciar nenhuma conversa. Não vai fazer outra coisa senão aquilo que está tão ansiosa para fazer agora: responder. Isso mesmo, você só vai responder. A última palavra vai sempre ser sua. Mas, você só vai conseguir isto: repetir (sempre) a última palavra. Nunca mais conseguirá falar a primeira palavra!”...
Eco logo entenderia a crueldade daquele castigo...
Pouco tempo depois, para sua desgraça, conheceu e se apaixonou por um jovem e belo caçador. Narciso. Um jovem maravilhoso. No entanto, de uma frieza tão grande quanto sua beleza. Ele não sabia amar ninguém. Amava a si próprio. Eco, ignorada, passou a vagar pelas montanhas. Perambulava pelos vales procurando por Narciso. Estava desesperada. Queria lhe confessar todo seu amor. Fazer com que ele se apaixonasse por ela...
Certo dia, Narciso estava caçando. Sem querer se perdeu de seus companheiros...
O jovem começou a gritar: “Há alguém por aqui?”...
Eco, que estava por perto, respondeu: “Por aqui!”...
Narciso ficou assustado com esta estranha resposta. Olhando ao redor, procurou. Não viu ninguém. Gritou: “Aproxime-se!”...
Eco repetiu: “Aproxime-se!”...
Narciso, já desconfiado, esperou um instante e não vendo ninguém aparecer, gritou novamente: “Porque você está fugindo de mim?”...
Respondeu Eco: “Fugindo de mim?”...
Narciso, nervoso, insistindo, propôs: “Venha! Vamos ficar juntos!”...
“Juntos!”. Foi a resposta que ele ouviu...
Depois de ter ouvido aquela proposta e repetido várias vezes a mesma estranha resposta, Eco, cheia de felicidade e esperança, decidiu se mostrar. Saiu de dentro do bosque. Com os braços abertos, atirou-se na direção de Narciso. Estava louca para abraçar o jovem caçador. Infelizmente, Narciso a repeliu bruscamente dizendo: “Não me abrace. Prefiro morrer a lhe pertencer!”...
Eco, suspirando, repetiu: “Lhe pertencer!”...
Tudo em vão. Narciso fugiu. Escondeu-se na floresta...
Pobre Eco. Deste dia em diante, também passou a se esconder. Nunca mais foi vista. Cavernas, montanhas, vales, colinas, passaram a ser seus esconderijos preferidos...
Seu corpo, por causa da dor e da tristeza, foi se definhando até que ficou sem carne. Seus ossos se transformaram em rochas...
Da bela mulher que irradiava energia pelos poros, só sobrou sua voz, com a qual responde a todos aqueles que até hoje a procuram clamando por uma resposta. Sempre repete a última palavra...
Maldito Narciso...
Não foi só o coração de Eco que ele destroçou com seu orgulho, vaidade e egoísmo. Muitos outros corações também foram despedaçados pela indiferença e pouco caso deste jovem e belo caçador. Um dia, no entanto, a hora de seu castigo haveria de chegar...
Mas isto, já é uma outra história...
                                                                          (Adaptação)
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