UM HOMEM FELIZ
Ele era um homem de estatura mediana, simples, com as marcas de suas experiências de vida distribuidas pelo corpo e aquietadas em sua
mente. O sorriso abundante, numa boca destratada pelas agruras dos
tempos vividos. Contudo a alegria o acompanhava e iluminava o lugar
onde se encontrava.
Ele adorava relembrar o passado e as lembranças que dessa época ficaram para divertí-lo.
Até que encontrei esse nordestino num coletivo, onde ele narrava sua infância de pobreza e juventude apertadas. Mas, nem por isso tristes ou desgraçadas, só cheias de aventuras pitorescas. Falou para quem ouvir quisesse de um baile que tanto queria ir. Para isso trabalhou como pedrei-ro o mês inteiro. Ao final, com o pagamento rumou ao centro da vila onde morava. Comprou uma calça, uma vez que o terno que queria era muito caro.Com o que sobrou, também, só deu para comprar um sapato bem barato e "chinfrim".
Chegou o dia do baile, preparou-se com água de cheiro após um ba-nho de água fria. E à tardinha pegou a estrada da roça até à Vila. Só que o caminho era longo e cheio de empecilhos como as poças d'água da chuva anterior.
Finalmente na festa, alegrou-se muito com os amigos e as moças
do baile. Divertia-se no xaxado, quando no meio do povo percebeu que seu sapato também estava feliz e sorria todo aberto. Uma vez que be-bera muita água de poça da estrada e estavam encharcados.
Não lhe restou outra alternativa senão a de ficar num canto assom-breado, onde ninguém enxergasse s eus sapatos ou então, ficar dan-çando alucinado no meio do aglomerado de pessoas na dança. Desta forma estava protegido e escondido de algum olho mais astuto.
Dessa cena não lhe ficara nenhuma revolta, nem depressão pelo
passa-do de poucas posses, mas de muita felicidade para um sábio, que já se contentava com o que de melhor havia, que era sua alegria e o povo de sua região.