A Menina e o Zé : Capítulo 1

Eu estava tocando a última música e vi ela aparecer bem na frente do palco, seus olhos pareciam buscar minha atenção para ela. O barulho era perturbador, então pude apenas ler o que seus lábios tentavam dizer.

"Tenho que ir!"

Apressei a letra da música e tentei acabar o mais rápido possível, minha melhor chance de conseguir o que queria e pela qual lutei por mais de três anos estava bem ali na minha frente e eu não iria perder por nada!

Terminamos de tocar e eu desci do palco de um só pulo, nem vi quem estava por perto, na verdade, nem me importei também, ela estava logo ali, parada, me esperando, jamais outra garota havia me esperado para nada na vida, a não ser ela. Depois de muita luta com os amigos que me puxavam e parabenizavam pela apresentação da banda, cheguei para conversar com ela, perto o suficiente para poder ouvi-la e sentir seu habitual nervosismo e sua encantadora timidez.

-Tenho que ir. - Disse ela, entre um sorriso simples.

-Mas já? Espera só mais um pouco!- Eu pedi

-Não posso, meu pai ja veio me buscar.- Respondeu ela com uma voz visivelmente triste. Ela compartilhava da minha vontade naquele momento.

-Bom então... -Respirei fundo e peguei em suas mãos. - A nossa noite acaba aqui. E será que depois de tudo que eu passei e fiz por você eu não mereço pelo menos um beijo de boa noite, ou de despedida?

De repente seu rosto tomou todas as cores de uma só vez. Sua timidez era algo incrível em certos momentos. Ela sorriu, meio sem graça, baixou a cabeça, levantou-a novamente e me olhou séria dessa vez.

-Você está bêbado!

-Não! Juro que não! - E realmente não estava. Nunca tinha bebido antes de fazer alguma apresentação, muito menos naquela noite. Percebi que era uma desculpa dela.

-Tudo bem então. Boa noite e durma bem! - Eu disse, deixando suas mãos soltas de novo.

-Pra você também! Tchau...

Me abraçou e foi embora. Eu fiquei ali parado, vendo a oportunidade da minha vida sair pela porta da frente. Talvez eu devesse ter feito algo mais, ter insistido mais um pouco talvez, mas minha mente não estava preparada para aquilo, acho que nunca esteve, e minha timidez era igualmente proporcional à dela. Então, apenas me virei e fiquei esperando a próxima banda subir ao palco.