UM ERRO
“O homem é um animal sociável que detesta os seus semelhantes”.
EUGÈNE DELACROIX
Possuía um temperamento violento. Irascível, viva como ermitão. Longe de tudo, o único contato que mantinha, mesmo que a contragosto, era com o coletor de impostos obrigado por força de sua ocupação a visitá-lo. Pagava com o que houvesse produzido na estação. E a burocracia que se encarregasse de transformar em moeda corrente o que era trazido.
Certa feita um coletor novato tentou inverter a escrita. Após recolher o que fora atirado, escondeu-se o mais que pode. Ao cair da tarde deu a volta na moradia já sombreada. Muito curioso, mal continha a ânsia de desvendar algo insondável. E naquele silêncio todo imaginou-se a salvo do olhar do ermitão.
Chegou aos fundos. Bastava transpor a cerca baixinha. Escalou o pequeno obstáculo e quando tocou o chão sentiu um alçapão abrir-se e tragá-lo rumo à escuridão profunda.