Págs 69 e 70 do livro Nas profundezas do "EU"
Não consigo me mexer, fecho os meus olhos e só escuto o silêncio e uma vós ao fundo começa se tornar cada vez mais forte:
___Ainda não gurizada, podem largar ele, vocês ai, levem o cara para a enfermaria .
Ouso o canto de pássaros, vou abrindo lentamente os meus olhos, estou amarrado na cama, tento levantar a cabeça, mas sinto uma mão em minha testa:
___Calma, calma amigo, devagar.
___Isto é um hospital, tu ficaste em coma por três anos, bom, é assim, nós vamos avisar que tu acordaste, é melhor te preparar, daqui tu vai voltar para a mesma cela até o julgamento.
___o que eu fiz?
___Tu não lembras mesmo?
___Não.
___Bom tu bateu um pouco demais na tua mulher desta vez, só que ela não estava sozinha, e a criança morreu com ela.
Não me lembro de nada, nenhuma lembrança, nenhuma imagem, não fui, não pode ter sido eu, ele solta uma das minhas mãos e deixa em cima do meu peito um bisturi e vai em direção a porta e antes de sair, se volta para mim:
___Já sabe o que fazer o teu filho só queria que tu pega-se ele no colo.
No que ele sai, olho para o bisturi e rapidamente, sem pensar corto os pulsos, tão profundamente que quase separa as minhas mãos, fez-se o silêncio, não sei por quanto tempo, e no que abro os olhos viro a minha cabeça para o lado esquerdo e me vejo deitado no divã branco ao meu lado de costas um homem que vai virando lentamente a cadeira e ouso o choro de uma criança.